O ministro era Padilha. O então Vice Presidente da Câmara André Vargas atuou no negócio bilionário descrito em relatório da Polícia Federal em 2014
A utilização das Parcerias de Desenvolvimento Produtivo (PDPs) para negócios milionários ganhou manchete em abril de 2014 quando mensagens interceptadas pela Polícia Federal mostram que o então vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR), e o doleiro Alberto Youssef atuaram em parceria para tentar viabilizar a assinatura de um contrato entre uma empresa de Youssef e o Ministério da Saúde. Em diálogo descrito em relatório da PF, em 19 de setembro de 2013, Youssef chega a dizer a Vargas que o negócio junto ao ministério garantiria a "independência financeira" de ambos. As informações estão em matéria publicada na época pela revista "Veja".
A parceria envolvia a farmacêutica EMS , de Carlos Sanchez, e o laboratório Labogen, pertencente ao doleiro, que tentava assinar com o Ministério da Saúde para fornecer medicamentos pelo sistema de PDPs. Pela parceria, com a promessa de transferência de tecnologia, seria possível praticar preços acima do mercado. Como tem estrutura pequena, para conseguir firmar o contrato com o governo, a firma precisaria se associar à EMS, empresa farmacêutica especializada na produção de medicamentos genéricos, de acordo com o que a revista Veja publicou.
Na conversa Vargas diz ao doleiro ter encontrado um integrante da Labogen, Pedro Argese, que o teria informado sobre a proximidade de conclusão da parceria com a EMS.
“Mais fortes”
"Estamos mais fortes agora. Vi o documento com o Pedro. Ele estava no voo de volta de Brasília", escreveu Vargas, mencionando documento de parceria com a EMS da família Sanchez.
Youssef respondeu Vargas: "Cara, estou trabalhando, fica tranquilo, acredite em mim. Você vai ver quanto isso vai valer tua independência financeira e nossa também, é claro."
Também segundo a agência o Globo, no dia seguinte, 20 de setembro de 2013, Youssef teria enviado uma nova mensagem ao deputado petista, relatando dificuldades para manter os negócios do grupo.
"Estou enforcado. Preciso de ajuda para captar... Tô no limite", escreveu.
Na mesma conversa, Vargas respondeu: "Vou atuar."
Segundo a Veja , no mesmo dia, técnicos do Ministério da Saúde foram destacados para certificar a Labogen, informação confirmada por Youssef em nova mensagem para Vargas.
Viagra
O contrato do ministério com Labogen e EMS chegou a ser assinado, tendo como objeto a produção de comprimidos de cloridrato de sildenafila (o Viagra), indicado no tratamento de hipertensão pulmonar. O mesmo produto que colocou a EMS em evidência anos depois em contrato superfaturado com a Marinha no governo Jair Bolsonaro.
Depois da denúncia pela imprensa, quando as suspeitas levantadas pelas investigações da PF vieram à tona, o Ministério da Saúde, na gestão de Alexandre Padilha, informou que o contrato seria cancelado. Nenhum pagamento teria sido realizado para as empresas, de acordo com o órgão, que abriu sindicância para apurar o envolvimento do diretor de inovação da pasta, Eduardo Jorge Oliveira, no episódio relatado. Hoje, dois ex-secretários nacionais da época de Padilha voltaram a atuar no Ministério.
Apesar do escândalo, a EMS continuou a ser farmacêutica que utiliza o PDP para venda sem licitação e com valores mais altos ao Ministério da Saúde. O TCU fechou esta torneira de negócios nebulosos que ultrapassam R$ 26 bilhões.
*Diretor de Redação do Correio da Manhã