Por: Gabriela Gallo

Com aliados internacionais, Javier Milei toma posse

Posse do novo presidente da Argentina acontece neste domingo, 10 de dezembro | Foto: Gabriel Sotelo /Fotoarena/Folhapress

Neste domingo (10), o candidato de extrema direita Javier Milei toma posse como novo presidente da Argentina. A cerimônia do ultraliberal representante do partido La Libertad Avanza acontece em Buenos Aires, capital do país. A previsão é que a cerimônia comece formalmente por volta das 11h (horário de Brasília), quando o novo presidente argentino prestar juramento perante o Congresso do país. Depois, ele irá se encontrar com o presidente em fim de mandato, o peronista Alberto Fernandez, que lhe entregará a faixa e o bastão presidencial. A vice-presidente eleita, Victoria Villarruel, também será empossada no Congresso.

Após receber a faixa e o bastão, Javier Milei fará seu primeiro discurso como presidente empossado para os parlamentares do Congresso. De lá, ele irá escoltado de carro para a Casa Rosada, a sede do Poder Executivo argentino. Porém, ele planeja descer na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, e caminhar até o prédio. Na sede do governo, Milei cumprimentará as delegações estrangeiras.

Presenças

No início da semana, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República confirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não comparecerá ao evento. Quem representará o Brasil é o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi convidado para o evento antes do presidente Lula, viajou para a capital da Argentina na quinta-feira (7) e retornará ao Brasil na segunda-feira (11). Na cerimônia junto com o ex-presidente estará uma “comitiva” de 50 autoridades políticas, dentre governadores e congressistas. Imagens divulgadas pelas redes sociais revelaram o ex-ministro da Casa Civil senador Ciro Nogueira (PP-PI), além dos deputados federais Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Zé Trovão (PL-SC).

Além dos brasileiros, também estarão presentes diversas autoridades latino-americanas, como o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou; o presidente do Paraguai, Santiago Peña; do Equador, Daniel Noboa, e do Chile, Gabriel Boric. Uma autoridade internacional que chamou a atenção é o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, um dos principais nomes da extrema-direita internacional.

Zelensky

Mas o destaque entre os convidados é a presença do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que chegará na Argentina na madrugada de domingo. A informação foi divulgada pela imprensa argentina dois dias após o anúncio de que Lula não estará presente. Esta é a primeira vez que Zelensky viaja para a América Latina desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, no início de 2022.

Na avaliação do advogado especialista em Direito Internacional Bernardo Pablo Sukiennik, os convidados confirmados demonstram um indício de como será a política internacional da Argentina. Ele pontua que a posse indica uma política internacional “no sentido de privilegiar as relações com aqueles mandatários e ex-mandatários que possuem uma afinação ideológica próxima de Milei”. A exceção no caso seria Boric, presidente do Chile, que é de esquerda.

“A maioria dos convidados que confirmaram presença são pessoas que possuem mais ou menos uma filiação ideológica muito próxima. Então, o que se pode extrair disso? Primeiro, é uma falta de pragmatismo do novo presidente da Argentina, já que as relações Argentina-Ucrânia, Argentina-Hungria não são ruins, mas também não são as relações fundamentais para a Argentina. As relações fundamentais para a Argentina são Estados Unidos, Brasil, China. E ele [Milei] durante a campanha eleitoral hostilizou Brasil, hostilizou China”, pontuou o advogado.

Durante sua campanha eleitoral, Javier Milei declarou que o não iria promover relações com a Rússia, e se posicionou favorável à Ucrânia na guerra entre os dois países. Para o advogado Bernardo Sukiennik, a relação Argentina-Ucrânia é ideológica e não apresenta tantas vantagens para a Argentina.

“Em termos práticos, a Argentina e a Ucrânia são grandes exportadores de trigo. Então, eles não têm uma agricultura complementar. Em termos comerciais ou de outras ordens que não sejam afinidades ideológicas, não há muito o que acrescentar entre Argentina e Ucrânia”, destacou.

Ele não descartou que, no pior dos casos, “pode ser até uma provocação leve ao presidente brasileiro Lula”. O presidente brasileiro sempre manifestou um posicionamento de que não há um culpado pela guerra, adotando um discurso de promoção da paz entre os dois países. Em entrevistas, Lula declarou que a Ucrânia também tem parcela de culpa pela continuidade da guerra, e não tem buscado encerrar o conflito. A posição do brasileiro desagradou o presidente ucraniano, que constantemente vem cobrando o Brasil para oferecer apoio na guerra.

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