Por: Gabriela Gallo

Processo de casal gay de ex-sargentos vai ao STF

Enquanto aguarda o processo, Laci segue carreira artística de cantor e compositor | Foto: Igo Estrela

Em 2008 o Brasil conheceu Laci Marinho de Araújo e Fernando Alcântara de Figueiredo, o primeiro casal homoafetivo de militares assumidos do país, quando eles foram capa de revista de circulação nacional. Ao assumirem publicamente o amor deles, eles também denunciaram um esquema de corrupção dentro do Exército, o que deu início a uma guerra entre os ex-sargentos com as Forças Armadas, que perdura até hoje. O caso evoluiu juridicamente ao longo dos anos e, agora, deve passar do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para o Supremo Tribunal Federal (STF).

No início do conflito, o casal que servia juntos em Brasília (DF), acusou o Exército de perseguição militar e denunciou um caso de desvio de verba envolvendo oficiais graduados das Forças Armadas. Na época, Fernando solicitou desligamento do Exército, que foi acatado. No entanto, Laci respondeu a um processo interno e chegou a ser preso acusado de deserção. Na terminologia militar, deserção é o abandono do serviço ou posto por um militar sem permissão de um superior, feito na intenção de não regressar à sua posição ou função. Nessa época, Laci também enfrentava problemas de saúde física e psicológica.

Após diversas consultas médicas, ele foi diagnosticado com "transtorno misto ansioso e depressivo", "outras reações ao estresse grave", "hipertensão primária" e o pior diagnóstico, "epilepsia de lobo temporal", um tipo de epilepsia rara. “Antes eu não conseguia nem sentar, nem comer sentado”, ele relatou ao Correio da Manhã.

Na época, Fernando acusou as Forças Armadas de homofobia. Um tempo depois, diante das evidências de que a perseguição causou transtornos psicológicos a Laci, ele acabou aposentado. Porém, ele só tinha o direito a apenas uma parte do salário. Após tudo isso, eles acionaram a Justiça e o caso segue em andamento.

“O próprio Superior Tribunal de Justiça já tinha firme jurisprudência, já tinha os precedentes de que os militares independentemente de qualquer condição, se ficou doente durante a participação do serviço militar, tem que ser reformado com todos os direitos, com todos os reflexos, com a aposentadoria integral e tudo”, explicou Fernando, que também é advogado e conduz o processo na defesa o companheiro.

O Exército nega que o caso tenha perseguição homofóbica. No processo, alega que o caso de Laci foi de deserção e que os procedimentos adotados foram os previstos na lei.

Música

Mas enquanto o casal espera novas respostas da Justiça, Laci também trabalha como cantor e compositor. Ele ficou conhecido por cantar covers de canções da falecida artista Cássia Eller. O ex-sargento contou à reportagem que, devido às suas condições de saúde, ele teve de parar a carreira musical e ficou anos em hiato no mundo musical.

“A partir do tratamento, eu comecei a melhorar. Consegui levantar, e pronto. Daí, eu surgi para a vida novamente. Eu digo que eu nasci novamente”, contou à reportagem.

“A música tem feito ele se recuperar física e emocionalmente, é muito bom para ele. Tem sido muito saudável. Até porque ninguém vive de guerra a vida toda”, completou Fernando.

Ao se recuperar, ele voltou para o mundo da música, mas chegou outro problema: a pandemia de covid-19. E, nesse meio tempo, há dois anos, ele lançou seu single “Nação Perdida”, uma resposta à música “Que país é esse?” da banda Legião Urbana. Na última semana, Laci lançou seu novo single, “Vírginia”. Inspirada em um livro do escritor Paulo Coelho, juntamente durante o período da pandemia global, a música narra a história de uma mulher tomada pela melancolia de ver mudanças irreversíveis da vida. “Apesar de estar tudo bem, ela não acha sentido em nada. Ela é uma pessoa fixada pelo que já passou. Eu acho que ela é atemporal”, disse.

Até meados de 2024, o artista pretende lançar seu novo EP com cinco músicas autorais, na qual !Virgínia” é a segunda.

O músico e ex-sargento segue ambicioso no retorno ao mundo da música. Voltando para suas raízes, Laci contou ao Correio da Manhã, que pretende lançar pelo Brasil a turnê “Na trilha delas”, com covers em homenagem à Cássia Eller e Marília Mendonça.

“Todo mundo quer que eu volte a cantar Cássia Eller, não tem jeito. Eu botei a Marília Mendonça porque, apesar da minha pegada não ser sertaneja, a Marília Mendonça veio igual um furacão, ela transcendeu o estilo musical que ela tocava”, diz o ex-sargento.

Nesta quinta-feira (7), Laci vai realizar outro show na capital federal, desta vez no restaurante Feitiço das Artes, na quadra 306 da Asa Norte, às 20h30. Os ingressos custam R$ 40 por pessoa. É possível conferir o trabalho musical de Laci Marinho pelo Spotify ou Youtube procurando “Lací Marinho”.

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