Por Bruno Braz, Igor Siqueira e Rodrigo Mattos (Folhapress)
A poucos minutos do início do jogo, quando tocava o Hino Nacional Argentino, torcedores brasileiros e argentinos no setor Sul do Maracanã entraram em conflito com arremessos de objetos. Não estavam separados por nenhuma divisória.
A Polícia Militar entrou no meio e passou a briga com os hermanos com agressões com cassetetes nos torcedores. A briga se agravou, jogadores argentinos foram até o local para ajudar os compatriotas. O jogo atrasou em meia hora enquanto a briga era resolvida.
A explicações posteriores para as cenas de violência constituíram um verdadeiro jogo de empurra entre CBF, organizadores e PM pelas responsabilidades.
Primeiro, a confederação é a responsável pela organização do jogo pela regra da Fifa, que é a dona das Eliminatórias. A versão da CBF é de que contratou a gestão do Maracanã, nas mãos de Flamengo e Fluminense, para fazer toda a operação do jogo. Portanto, não teria tomado nenhuma decisão sobre como os torcedores foram postos sem divisória. A entidade ainda atribuiu à PM o planejamento de segurança do evento.
Em nota, a PM informou "que não havia divisão entre torcidas nos setores do Estádio do Maracanã, por conta da venda de ingressos sem diferença entre as torcidas, o que foi definido pela organização do evento".
Em entrevista à TV Globo, o coronel Ferreira, do Bepe (grupamento de estádios), disse que isso foi "um dificultador para a segurança privada desde o início do problema". E ressaltou que "normalmente torcidas visitantes e da casa são separadas".
A gestão do Maracanã informou que o padrão em jogos da seleção é não haver divisão. Ou seja, foi seguido o que é feito com procedimento em partidas do Brasil. E disse que foi definido como torcida mista.
A questão é que, desde a primeira reunião em 16 de novembro, a organização do jogo já tinha sido feita com setor misto de torcidas no Sul, onde estava previsto ficarem os argentinos. E, nesta reunião estiveram representantes da PM, Ministério Público do Rio, gestão do Maracanã e Ferj (Federação do Rio). Depois, a CBF excluiu a Ferj da organização do jogo. Havia um representante do Bepe (policiamento dos estádio), Alexandre Tonassi, neste encontro.
"Outros jogos entre Brasil e Argentina, até de maior apelo, como a semifinal da Copa América de 2019, também foram disputados com torcida mista. Não se trata de um modelo inventado ou imposto pela CBF. Ou seja, todo o plano de ação e segurança foi elaborado e dimensionado já considerando classificação do jogo como vermelha e com a presença de torcida mista, tanto que atuaram na segurança da partida 1050 vigilantes privados e mais de 700 policiais militares da Polícia Militar RJ. Portanto, a CBF reafirma que foram cumpridos rigorosamente o plano de ação, de segurança e operação da partida, tal qual foram aprovados pela Polícia Militar RJ e demais autoridades", diz trecho da nota oficial da CBF.
A ata da reunião não registra nenhuma oposição à torcida mista por parte da polícia na ocasião. A PM tem poder de veto nesses casos.
Quanto à CBF, cabe a ela, como organizadora oficial do jogo, a responsabilidade pelas decisões, mesmo que tenha contratado terceiros para operação. Tanto que a Fifa vai analisar o caso disciplinarmente com a CBF como ré.
O coronel Ferreira ainda justificou como necessária a força empregada pela PM na arquibancada. As imagens mostram policiais danado com cassetes em argentinos mesmo quando estes estavam sem reagir. É bem claro pela imagem que a atuação dos policiais agravou o conflito. Do outro lado do estádio, torcedores brasileiros criticaram a atuação da PM com gritos.
PM e seguranças serão investigados
por violência
Imagens de câmeras de segurança do Maracanã serão analisadas para averiguar se houve excessos de violência de policiais militares e seguranças particulares na briga antes do Brasil e Argentina pelas Eliminatórias da Copa do Mundo.
A informação é do promotor Leonardo Cunha, do Juizado Especial Criminal (Jecrim) que funciona dentro do Maracanã.
No local, três torcedores argentinos estavam com ferimentos na cabeça e um precisou ser atendido no hospital Souza Aguiar, no Centro (RJ), por estar com uma fratura no braço esquerdo.
Sete homens acusados de terem se envolvido na briga na arquibancada foram conduzidos à delegacia do estádio, todos argentinos. Um deles, porém, comprovou por meio de fotos e vídeos que não estava na pancadaria e foi liberado.
Os outros seis foram autuados por "promoção, prática ou incitação à violência", mas aceitaram a transação penal proposta pelo Jecrim, que consistia no pagamento de R$ 200 ao Instituto Pró-Cardíaco. Em seguida foram liberados.
Uma argentina foi acusada de racismo por uma funcionária da empresa que presta serviços de alimentação e bebidas no Maracanã. A torcedora prestou depoimento no Jecrim.
O juizado também contabilizou com casos de cambismo, invasão ao campo e desacato à autoridade.