Encerrando a primeira semana do mês de outubro, não dá para falar de outro assunto: outubro Rosa, campanha de conscientização para prevenção ao câncer de mama, que é o tumor que mais acomete mulheres em todo o mundo. Em 2020, foram detectados 2,3% novos casos, o que representa 24,5% de todos os tipos de neoplasia vivenciadas por pessoas do sexo feminino. Números nacionais apontam que só em 2023 há uma estimativa de 73.610 casos novos de câncer de mama em todo o Brasil. Em outras palavras, a cada 100 mil brasileiras, 62 mulheres devem ser diagnosticadas com câncer de mama até o final deste ano.
E as expectativas para o futuro não são positivas. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), somente neste ano a estimativa é de que a taxa de incidência chegue a 73.610 casos novos. E até 2025, o Brasil deve registrar 220,8 mil novos casos de câncer de mama, sendo esta a segunda neoplasia maligna mais incidente entre as mulheres, ficando atrás apenas de cânceres de pele não melanoma.
Prevenção
O câncer de mama pode ser identificado quando a mulher perceber algum caroço ou anormalidade no seio, como um nódulo na mama, secreção com sangue pelo mamilo e mudanças na forma ou textura do seio ou do mamilo. Apesar da recomendação do autoexame, o ideal é consultar um médico.
O Correio da Manhã conversou com a analista de sistemas, Luciana Mariano, de 46 anos. Ela foi diagnosticada com o tumor durante um exame de rotina em 2016. Na época, ela tinha 38 anos. E, assim que foi diagnosticada, ela não perdeu tempo. Buscou informações com a sua mastologista e saiu da clínica direto para fazer exames.
“O início é cansativo, muitas informações, exames, decisões, tudo novo. Depois, a gente vai se adaptando e se concentrando no tratamento. Não é fácil, a gente não se reconhece em alguns momentos, temos medo, mas temos a confiança que tudo vai dar certo. Tenho o privilégio de poder me tratar através de um plano de saúde, isso me dá um conforto maior, pois o tratamento nos traz muitos desgastes. Fiz uso de hormonioterapia durante cinco anos e atualmente me sinto curada”, contou Luciana.
Já o caso da professora aposentada Simone Barreto, 52 anos, foi mais complexo. Ela contou que em 2017 sentiu um nódulo no seio, mas ela demorou para investigar o que era. “Eu ficava me enganando, dizendo ‘não, isso aí deve ser calcificação’. O medo me paralisou”, ela contou à reportagem. Um ano e meio depois, em julho de 2018, ela foi ao ginecologista retirar um cisto uterino e resolver fazer todos os exames. Após uma série de diversos exames, chegou o resultado: câncer carcinoma estágio 2.
Antes de ser diagnosticada com câncer, Simone já lutava contra uma forte depressão. Ela comentou que isso pode ter contribuído para a série de fatores que desencadearam a doença. “A depressão te arrasta para o fundo. Quebra a nossa imunidade. A nossa imunidade fica bagunçada, fica fraca e aí pode ter uma reprodução anormal das células que fazem esses nódulos crescerem”, explicou a educadora.
Simone então começou seu tratamento. Em setembro de 2018, ela colocou os cateteres e iniciou o tratamento de quimioterapia, que durou até janeiro de 2019. “É todo aquele sofrimento de cair o cabelo, cair a unha”, conta ela. “Você fica muito emocional, se abala por estar lidando com algo que é tão desconhecido. A palavra câncer tem um estigma de que você já está com o ‘pé na cova’. Ainda falta muita informação e, no caso, o câncer de mama é um dos que tem mais chance de cura quando diagnosticado cedo”.
Em fevereiro de 2019, ela fez uma cirurgia e, ao sair a biópsia da cirurgia, descobriu que o tumor avançou para a axila direita e atingiu o sistema linfático. Ela teve que retirar três linfonodos da axila e fazer 30 sessões de radioterapia. Hoje, ela faz semanalmente fisioterapia para não acumular líquidos no braço e evitar linfedema, inchaço causado por uma obstrução do sistema linfático, parte do sistema circulatório.
Mesmo assim, a professora nunca perdeu o bom humor e deixou de sorrir durante o seu tratamento. “Foi difícil? Foi. É severo? É. Mas é possível enfrentar, é um grande deserto, mas a gente sai dele. Porque a vontade de viver é maior”, ela destacou.
Reconstrução mamária
Algo que muitas pacientes com câncer de mama não sabem é que é possível voltar ao corpo que se tinha antes, com limitações, através da reconstrução mamária. O cirurgião plástico especialista em intervenções de reconstrução mamária e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Adriano Borges, explica que o diagnóstico precoce ajuda tanto para o combate ao câncer quanto para as ações de cuidado emocional e reconstrução mamária.
“Antigamente, nós tínhamos diagnósticos mais tardios e as técnicas de mastectomias [tratamento do câncer] eram mais radicais. Hoje, com o diagnóstico mais precoce, nós conseguimos poupar um pouco mais de pele. Então, o mastologista faz a retirada de mama, mas ele consegue poupar uma quantidade de tecido maior da mama, a própria aréola, o que permite que a gente faça já a reconstrução. Por isso, é tão importante que tanto a identificação da doença, quanto o tratamento sejam iniciados o quanto antes”, observou.
Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) apontam que 12.925 mulheres realizaram procedimentos de mastectomia entre anos de 2021 e 2023. Apesar disso, somente 2.893 pacientes conseguiram realizar a reconstrução mamária pela rede pública. Além disso, entre os anos de 2015 e 2020, foram realizadas 204.569 cirurgias de câncer de mama em todo o Brasil, sendo 43% mastectomias. Nesse mesmo período, 17.927 mulheres passaram por cirurgias plásticas reconstrutivas de mama com implantes após a mastectomia. Mas apenas 20,52% das mulheres mastectomizadas puderam fazer a reconstrução com implante imediatamente após a retirada do seio.
No caso de Simone, ela não teve oportunidades em fazer uma reconstrução mamária porque descobriu o câncer em um estágio mais avançado e porque o tumor chegou na região das axilas. Já Luciana teve de fazer uma mastectomia (o tratamento para o câncer) total na mama “acometida com reconstrução imediata”.