Por: Gabriela Gallo e Murilo Adjuto

Na ONU, Lula culpa neoliberalismo por desigualdade

Presidente Lula durante seu discurso na ONU | Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na abertura da 78º Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (19). Neste ano, o tema geral do debate é “Reconstruir a confiança e reacender a solidariedade global: acelerando ações para a Agenda 2030 e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS] rumo à paz, prosperidade, ao progresso e à sustentabilidade para todos”. E, como adiantado pelo Correio da Manhã, o brasileiro focou nos temas de erradicação da pobreza, redução das desigualdades e ação contra a mudança global do clima.

A agenda 2030 da ONU é um plano global elaborado para tentar construir um mundo melhor. Ele foi assinado em 2015 por 194 países que se comprometeram a realizar políticas públicas e estratégias para alcançarem os 17 objetivos da ONU.

Neoliberalismo

Durante seu discurso, Lula culpou o modelo econômico neoliberal pela desigualdade econômica. “O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos. Em meio aos seus escombros, surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas. Muitos sucumbiram à tentação de substituir o neoliberalismo por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário”, disse o presidente.

E para vencer a alta taxa de desigualdade global, Lula destacou que “falta vontade política daqueles que governam o mundo”. “A desigualdade precisa inspirar indignação. Indignação com a fome, a pobreza, a guerra, o desrespeito ao ser humano. Somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade e transformar efetivamente o mundo ao nosso redor”, enfatizou o presidente.

Auxílio

O presidente ainda cobrou de “países ricos” auxílio para os países em desenvolvimento. “A promessa de destinar R$ 100 bilhões anualmente para os países em desenvolvimento permanece apenas isso, apenas uma longa promessa”, criticou.

Em entrevista ao Correio da Manhã, o cientista político Sérgio Andrade, diretor da ONG Agenda Pública, considera que o discurso de Lula “reforçou o posicionamento tradicional do país” e que “colocou o Brasil como parte da solução, atuando junto às instâncias globais de governança para a solução de grandes desafios”.

“Ou seja, o país não se coloca apenas como parte do problema como vinha acontecendo em anos anteriores. Lula reforçou esse posicionamento de que o Brasil está pronto para contribuir e ajudar a construir os consensos necessários para que esses problemas possam ser solucionados até 2030”, disse Andrade.

Porém, o especialista avalia que faltou um posicionamento do Brasil “não só durante a Assembleia Geral, mas também nos eventos paralelos que ocorrem na ONU” de forma mais objetiva com relação aos compromissos da agenda.

“Apenas um percentual pequeno desses objetivos está progredindo, a grande parte dessa agenda, seja na temática de pobreza, desigualdade, as questões climáticas, enfim, de maneira geral a agenda progride mal. O governo brasileiro precisa detalhar melhor qual será a estratégia para a aceleração desses compromissos no Brasil. São compromissos que envolvem várias áreas, não só as áreas sociais ou ambientais, mas também a área econômica”, ele destacou.

Zelensky

Nesta quarta-feira (20), Lula e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, vão se reunir pela primeira vez depois de meses de negociação. Em entrevista ao Correio da Manhã, o analista político da BMJ Consultores Associados, Nicholas Borges, considera que, por um lado, Lula “poderia utilizar a oportunidade para posicionar o Brasil no papel de moderação do conflito, como estima há um tempo”.

“Em contrapartida, Zelensky deve cobrar o presidente brasileiro por uma postura mais incisiva do Brasil contra a Rússia, o que é pouco provável de acontecer se consideramos a postura histórica da diplomacia brasileira em condenar abertamente um parceiro estratégico, como é o caso da Rússia”, completou Borges.
“Também é importante considerar que Zelensky chega em uma Assembleia da ONU ‘tímida’, já que das principais potências hegemônicas que integram a ONU, apenas os Estados Unidos, com Joe Biden, estará presente. Rússia, França, China e Reino Unido não participarão com seus chefes de Estado. Portanto, os holofotes podem ser um desafio para o presidente da Ucrânia nessa ocasião”, pontuou o analista político.

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