Por Wellington Daniel, Leandra Lima* e Guilherme Mattos*
Petropolitanos que dependem do transporte público enfrentaram um caos nesta terça-feira (9), em mais um capítulo da crise do sistema na cidade. A garagem das empresas Petro Ita e Cascatinha, que fica na Rua Coronel Veiga, sofreu um incêndio de grandes proporções durante a madrugada. Juntas, as duas viações são responsáveis por 40% das linhas que atendem ao município. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários de Petrópolis (Setranspetro), há indícios de que tenha sido criminoso. Houve uma vítima, o funcionário José Luiz dos Santos, que ficou ferido ao tentar fugir das chamas e foi encaminhado ao Hospital Municipal Nelson de Sá Earp.
No início da noite de ontem (9), a Prefeitura anunciou a instauração de um Gabinete de Crise para discutir ações para regularizar o serviço. O Setranspetro apresentou à Prefeitura um balanço de 74 veículos perdidos, sendo 50 da Petro Ita (desses, 10 estavam em desuso, segundo as empresas) e 18 da Cascatinha (10 também em desuso). Além disso, seis veículos seriam sucata. Já o Corpo de Bombeiros informou 78 foram destruídos pelas chamas.
A Petro Ita e Cascatinha fazem parte do mesmo grupo da empresa Master, que atende a localidades da Região Metropolitana. As empresas são da família Ricardo Rocha, empresários Isidro Ricardo da Rocha (filho) e Isidro Rodrigues da Rocha Coelho.
Na manhã de terça-feira, oito coletivos da Master subiram a Serra. Durante uma transmissão ao vivo do programa Correio Petropolitano Debate, da TV Correio da Manhã, a equipe de redação flagrou um dos novos substitutos sendo rebocado antes mesmo de entrar em operação. A previsão, segundo a Prefeitura, é que outros dois veículos desta empresa entrem em operação cheguem à cidade e entrem em operação nesta quarta-feira, além de quatro das viações atingidas que passaram por reparos.
Madrugada
O incêndio de grandes proporções assustou moradores vizinhos. Na comunidade do Valparaíso, Chapa 4, que fica no morro próximo à garagem, era possível ver as chamas. O Corpo de Bombeiros foi acionado às 1h40, e enviou cerca de 16 militares das equipes dos batalhões de Petrópolis (15º GBM), Itaipava (2/15 DBM), Nova Iguaçu (4º GBM) e Magé (9º GBM). Moradores relataram sobre a dificuldade que as equipes de socorro tiveram para conter o incêndio, utilizando água de piscinas de residências próximas no combate. Em nota, a Corporação explicou que a principal dificuldade veio sobre a falta de sistema preventivo no local, e que a utilização de água de piscinas é procedimento padrão.
Moradores relataram que durante o ocorrido ouviram barulhos estrondosos e sentiram tremores nas casas e janelas durante as explosões e forte cheiro da fumaça preta que cobria a localidade no momento do incêndio.
"No início, achei que era um balão que estivesse soltando aqueles tiros pequenos, depois o barulho foi aumentando, que começou a estremecer os vidros da minha casa. Com isso, eu me preocupei e sai para ver o que estava acontecendo e me deparei com aquele cenário de explosão onde as labaredas de fogo chegavam numa altura assustadora", relatou Moisés de Ornelas, morador do local.
Investigação
O Setranspetro informou à imprensa que há indícios de que o incêndio tenha sido criminoso. A Polícia Civil esteve durante o dia na garagem das empresas para realizar a perícia e apurar as causas do incêndio. O caso foi registrado na 105ª Delegacia de Polícia.
Além disso, a Prefeitura oficiou o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), pedindo a apuração do caso.
"Estamos pedindo essa ajuda do Ministério Público uma vez que há indícios de crime. É preciso que haja uma investigação rigorosa sobre as causas do incêndio e todas as forças são importantes para que a gente possa entender o que houve e apurar as responsabilidades", disse o prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo.
Ficou definido contratação de um perito pela Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans), órgão responsável pela regulação e fiscalização do transporte em Petrópolis, para realizar a auditoria sobre o incêndio. A Câmara Municipal também criou uma Comissão Especial, que será composta por cinco vereadores e acompanhará o caso.
Rodoviários
O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Petrópolis se posicionou sobre o risco de demissões com o incidente. Segundo o órgão, já fez contato com as empresas e que, por ora, não há movimentação das empresas sobre demissão de funcionários.
O prefeito Rubens Bomtempo também se pronunciou e disse que conversou para que não haja demissões.
Tanto as empresas, quanto o Setranspetro, não emitiram nota sobre o acidente com o funcionário José Luiz dos Santos que ficou ferido ao pular de altura dentro da garagem durante o incêndio. Ele foi socorrido por um carro de particular e encaminhado ao Hospital Municipal Nelson de Sá Earp.
Crise
As empresas afetadas são alvos constantes de reclamações de usuários, devido à precariedade do fornecimento do serviço na cidade. Em março deste ano, o Correio Petropolitano fez um levantamento que mostrou diversos ônibus com o licenciamento vencido e com o prazo de uso expirado. Um levantamento feito pela Comissão de Transporte e Mobilidade da Câmara Municipal encontrou 52 veículos com o documento atrasado. Alguns, com o prazo de utilização expirado.
A crise ainda foi agravada com a tragédia das chuvas que aconteceu na cidade em fevereiro e março de 2022. A garagem atingida pelo incêndio, na Rua Coronel Veiga, e outra onde fica a parte administrativa das empresas, foram inundadas pelas enchentes no Rio Quitandinha, além de diversos veículos que tiveram perda total.
Os problemas também afetam rodoviários, que relatam constantes atrasos de pagamentos. Alguns, segundo relatos dos próprios trabalhadores, nunca tivem do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) depositado, assim como outros vencimentos trabalhistas.
Já a Cascatinha, briga na Justiça pela sua permanencia no serviço. No ano passado, o Tribunal de Contas do Estado determinou a realização de uma nova licitação para a contratação de uma empresa para substitui-la. Segundo o TCE, não consta contrato e nem mesmo o nome da empresa regularizado para a prestação do serviço em Petrópolis. E, ainda assim, os veículos da empresa continuam em circulação.
*Estagiários