Por Nilo Sergio A. Felix*
Em 8 de março de 1673, surgiu um dos mais encantadores e admiráveis bairros do Rio de Janeiro, Bangu, um lugar rural que se tornou urbano em 1890 com a construção da estação ferroviária.
Bangu a capital da zona oeste, a jóia carioca, cujo nome vem de palavra indígena utangu que significa montanha ou serra negra, onde encontram-se os Maciços do Gerecinó, Mendanha e o Pico da Pedra Branca, também podemos considerar sua origem a palavra africana banguê utilizada pelos escravos como local do engenho.
Um bairro que cresceu e se desenvolveu com o surgimento em 1893 da Companhia Progresso Industrial do Brasil, "A Fábrica Bangu".
Referência Internacional dos tecidos fabricados e da moda exigida na sociedade carioca, época dos desfiles de tecido Bangu e concurso miss Brasil no Golden Room do Copacabana Palace.
A fábrica foi construída com grande participação dos imigrantes ingleses, era reconhecido como uma das maiores da América Latina cujo os proprietários os irmãos Joaquim e Guilherme da Silveira e o bairro em função da fábrica crescia em passos largos.
Bangu sempre foi reconhecido como um bairro em franco desenvolvimento. Os operários da fábrica tinham o necessário para uma boa qualidade de vida, a começar pela moradia, todos eram proprietários de suas casas, construídas pela Fábrica Bangu.
Um clube social, Bangu Atlético Clube, com todas modalidades de esporte, bem como a cultura que na literatura o destaque para José Mauro Vasconcelos cujo romance "O meu Pé de Laranja Lima" (1968) traduzido em 52 línguas e publicado em 19 países.
Além dos clubes sociais, Bangu e cassino, também um parque aquático onde foram revelados grandes atletas campeões de natação e water polo.
Os moradores e funcionários da fábrica tinham os serviços essenciais para a família, hospital, creche, ambulatório, escola, jardim de infância e emprego.
Um bairro planejado, basicamente de casas, onde todos se conheciam tornando o ambiente familiar. A noite cadeiras nas calçadas e boa conversa até chegar a hora de dormir e na manhã seguinte acordar cedo com o apito do chaminé da fábrica anunciando o horário do início do trabalho. Saudades imensa do seu Chiquinho Felix e Dona Yolanda, antigos operários da fábrica Bangu.
Pontos de encontro
Os badalados pontos de encontro da juventude banguense eram, largo da igreja, a galeria do Matilde e a turma do lula (a que fiz parte), vez por outra a porrada estancava, mas no final tudo acabava em pizza eram amigos e muitos até parentes e todos se entendiam.
Hoje, o encontro dos amigosde todas as tribos da antiga é no tradicional e conservador Armazém do Preto, onde todos se encontram e a conversa não tem hora para acabar, o armazém fica situado atrás da igreja São Sebastião e Santa Cecília uma das principais referências católica e arquitetônica de Bangu, construída em 1910 com tijolos aparentes pintados de vermelho e com detalhe de listra branca, a igreja foi posteriormente doada à arquidiocese do Rio de Janeiro pela fábrica Bangu.
Na musicalidade o ilustre morador Hermeto Pascoal e Anacleto de Medeiros o organizador da Banda da Fábrica de Bangu, nossas celebridades no mundo musical, além do sambista Zé Keti que com 4 anos de idade, veio morar em Bangu na casa do seu avô.
Como dizia o ilustre cantor Ataulfo Alves "Adeus Grajaú vou sambar lá em Bangu".
O Bangu atlético clube foi fundado em 17 de abril de 1904, conhecido também por Ari Barroso como o gigante da zona oeste que tinha a cancha encantada na Rua Ferrer.
O primeiro Presidente foi o inglês William French e o vice o escocês Thomas Donohoe.
Em 1947 foi inaugurado o estádio proletário Guilherme da Silveira Filho, conhecido como Moça Bonita, com o gramado maior que o do maracanã e capacidade para 9.000 torcedores.
Nos gramados Bangu, foi o 1º campeão profissional de futebol em 1933, jogou a final com o fluminense e venceu por 4 x 0 com o jogo realizado no campo das laranjeiras.
O time de operários conhecido com mulatinhos rosados (maior parte dos jogadores eram negros). Que segundo Mario Filho e jornalistas na época, noticiaram que os jogadores do fluminense na véspera do jogo passeavam na Avenida Rio Branco apreciando o desfile das lindas morenas e os jogadores do bangu treinando incansavelmente durante a semana toda e concentrados na casa da fábrica Bangu.
No final do jogo, bangu declarado campeão a população saiu as ruas comemorando o título até o dia clarear.
Futebol
Um dos fatos interessantes históricos foi em 1956. Pelé foi apresentado ao Bangu, ao técnico Elba de Pádua Lima (Tim), fez um excelente treino, mas dona Celeste (mãe de Pelé) não o deixou ficar, considerava Bangu muito longe de Bauru. Lembrando também que 1º jogador negro de futebol no Brasil foi Francisco Carregal em 1906, jogador do Bangu.
Também é importante lembrar que a 1º bola de futebol trazida para o Brasil foi pelo escocês Thomas Danohoe (conhecido em Bangu como seu Danau) camuflada em uma caixa de madeira, com destino a fábrica de Bangu em 1893.
A falta de dados oficiais faz com que os paulistas acreditem que Charles Miller fez a Introdução do futebol no Brasil em outubro de 1894.
Outro fato histórico em 1970 a seleção brasileira treinada por Saldanha empatou com o bangu de 1 x 1 no estádio moça bonita, sendo Saldanha demitido e Zagalo assumindo o comando.
Poucos sabem, mas em 1960 o Bangu foi campeão mundial de futebol não existia a FIFA o torneio foi nos Estados Unidos, o Fluminense foi o time convidado, mas quem representou o Brasil foi o Bangu com um timaço de craques entre eles Ubirajara, Zózimo, Décio Esteves e Ademir da Guia.
Sem falar nos ídolos do passado reconhecidos mundialmente, como mestre Ziza no qual Pelé se referia como o melhor jogador do mundo e Domingos da Guia, apelidado de divino mestre, considerado pela imprensa o maior defensor da história de futebol brasileiro.
Todos times que participaram do torneio: Bayer de Monique, New York American, Nice campeão da França, Sampdoria Itália, Sport de Portugal, Estrela Vermelha Iugoslávia, Burnley campeão Inglês e Rapib Wien Campeão Austríaco.
No Bairro de Bangu tínhamos inúmeros campos de futebol com destaque para o Ceres, Fazenda, Lavoura, 11 amigos, Pedreira, Juquinha, Vila Hípica e bons times de futebol dentre eles o Relâmpago da Rua Fonseca (em que joguei), também o relâmpago era um bloco de carnaval famoso que desfilava no centro da cidade E em vários bairros da zona oeste.
Em 1966 o Bangu se tornou campeão carioca de futebol, com uma exibição de gala em cima do Flamengo, vencendo o jogo por 3 x 0, com grande confusão generalizada pelo jogador do flamengo Almir Pernanbuquinho aos 26 minutos do segundo tempo formou-se uma pancadaria, sendo 9 jogadores expulsos e o bangu declarado campeão com um público presente de 143.978 mil de torcedores, dizem os comentaristas da época que se o jogo continuasse seria 6 x 0 o final.
O técnico era Alfredo Gonzales e Euzébio de Andrade pai do Castor, o presidente do Bangu. Castor comandava o futebol e a escola de samba Independente de Padre Miguel, reconhecida no mundo do samba como bateria nota 10 do mestre André. A Verde e Branco foi campeã do carnaval 6 vezes, os sambas que marcaram foram: Ziriguidum carnaval das estrelas em 1985, Vira vira virou, a mocidade chegou em 1990 e Chuê chuá as águas vão rolar em 1991.
Bangu doce Bangu, um bairro que surgiu exatamente na mesma data onde se comemora o dia internacional das mulheres, essas guerreiras dedicadas que fazem o mundo melhor.
Um lugar longe do mar com média de 40º graus de temperatura no verão, mas com tantos encantos, beleza e principalmente muito amor e amizade.
Meu bairro, minha gente, minha família.
*Subsecretário de Turismo do Estado do Rio de Janeiro