Por: Martha Imenes

Pesquisa: 54% dos brasileiros vivem no limite do salário

Defasagem do salário frente ao custo de vida, que abocanha grande parte do orçamento | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A realidade financeira é um desafio persistente para a maioria dos trabalhadores no Brasil, revela o relatório "People at Work 2025" do ADP Research Institute. A pesquisa, que entrevistou quase 38 mil trabalhadores em 34 países, incluindo o Brasil, mostra que, em terras brasileiras, 54% dos profissionais afirmam viver de salário em salário. Ou seja, dependem exclusivamente do pagamento mensal (ou quinzenal) para cobrir todas as despesas básicas, sem conseguir guardar dinheiro ou formar uma reserva financeira. Em outras palavras, se o próximo salário não chegar, a pessoa pode enfrentar dificuldades imediatas para pagar contas, comprar alimentos ou manter seu padrão de vida.

O dado destaca a pressão econômica enfrentada no país, onde a capacidade de poupança e a construção de uma reserva financeira para o futuro são limitadas para grande parte da força de trabalho.

Vulnerabilidade

A parcela de trabalhadores que vivem dessa forma é reflexo de uma vulnerabilidade financeira que se manifesta de diversas formas no mercado de trabalho. Para muitos, a busca por uma renda adicional tornou-se uma estratégia de sobrevivência, já que ilustra a dificuldade em alcançar um patamar de segurança financeira com apenas um emprego.

A pesquisa mostra que 19% dos trabalhadores brasileiros possuem mais de uma fonte de renda. Desses,  60%, declararam que sua principal motivação para ter outros empregos é a necessidade imperativa de cobrir despesas básicas.

Quando observadas as características demográficas, a pesquisa traz dados reveladores: mulheres (21%) têm predominância em relação aos homens (17%) quando se trata de atividades paralelas. A faixa etária também influencia: entre jovens de 18 a 26 anos, 25% acumulam mais de um trabalho, percentual que cai para 14% entre os que têm 55 anos ou mais.

O levantamento mostra que acumular funções nem sempre resolve o cerne do problema. Em escala global, trabalhadores com múltiplos vínculos empregatícios continuam enfrentando dificuldades para equilibrar o orçamento. Isso indica que o problema está enraizado em fatores estruturais, como a defasagem do salário frente ao custo de vida.

 

'Remuneração é o alicerce da estabilidade financeira'

As organizações têm um papel crucial em relação ao contexto vivido por seus funcionários. Loraine Blommendaal, Head de Pessoas & Cultura, Produto e Tecnologia Global da ADP Internacional destaca: "A remuneração é o alicerce da estabilidade financeira para a maioria, mas nossos números indicam que até mesmo aqueles com três ocupações ainda encontram dificuldades. Isso representa uma oportunidade para os empregadores adotarem uma política mais abrangente de reconhecimento e valorização".

A especialista avalia que no caso das pequenas e médias empresas, onde os recursos são mais limitados, adotar soluções criativas pode ser decisivo. De acordo com os dados do estudo, alternativas como planos de saúde, auxílios pontuais ou benefícios voltados à família, como ajuda com creche, contribuem para reduzir pressões do cotidiano. As iniciativas demonstram preocupação genuína com o bem-estar dos colaboradores, o que fortalece a confiança e melhora o desempenho das equipes.

Investir em pacotes de valorização que realmente impactem a rotina do trabalhador brasileiro vai além de uma postura ética, é uma decisão estratégica.

Isso, segundo a especialista, permite às empresas se posicionarem como aliadas no enfrentamento dos desafios econômicos enfrentados por seus times, ajudando a construir relações mais sólidas e um mercado de trabalho mais equilibrado.

Sem medo de perder o emprego

Mais da metade (53,8%) dos trabalhadores não vê chance de perder o principal emprego ou fonte de renda nos próximos seis meses. Uma pesquisa revela que para 42,3% dos entrevistados é improvável ficar sem o trabalho, enquanto 11,5% afirmam ser muito improvável.

Para 13,8%, a chance é provável, e apenas 2,8% consideram muito provável. Pouco menos de um terço (29,7%) não soube responder.

Os dados fazem parte da Sondagem do Mercado de Trabalho, realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

O responsável pela sondagem, Rodolpho Tobler, explica que o baixo percentual de trabalhadores que afirmam ser provável ou muito improvável perder o emprego ou fonte de renda é reflexo do cenário de mercado de trabalho aquecido.

"Com a taxa de desocupação em níveis mínimos em termos histórico, é natural que os trabalhadores se sintam mais seguros na sua ocupação ou em uma realocação caso seja necessário. Esse dinamismo observado nos últimos anos tende a ser favorável para os trabalhadores", avalia.

No entanto, Tobler aponta que, com expectativa de desaceleração da economia brasileira e do mercado de trabalho, "é esperado que essa variável não continue nesse patamar baixo por muito tempo", diz.

Taxa menor

Os números mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre mercado de trabalho mostram que a taxa de desemprego do segundo trimestre ficou em 5,8%, a menor já registrada na série histórica do instituto, iniciada em 2012.