Por: Martha Imenes

Consumo das famílias tem alta de 0,5%

IBGE mostra reflexo do consumo das famílias na economia | Foto: Rafa Neddermeyer - Agência Brasil

O crescimento de 0,4% da economia brasileira no segundo trimestre ante o primeiro trimestre foi puxado principalmente pelo consumo das famílias, que mostrou expansão de 0,5% no período.

A constatação está no desempenho do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país), divulgado nesta terça-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado de 12 meses, a alta é de 3,2%.

Uma das formas de calcular o desempenho do PIB é pela chamada ótica do consumo, que inclui o comportamento do consumo das famílias, consumo do governo, importações, exportações e Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que representa os investimentos.

O avanço do consumo das famílias é o principal motor porque esse componente da demanda representa 63,8% do PIB. O outro componente com expansão, a exportação, responde por 18% do PIB.

Juros

O resultado de 0,4% do PIB no campo positivo é uma desaceleração, uma vez que o primeiro trimestre cresceu 1,3% ante o quarto trimestre de 2024.

De acordo com a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, o motivo principal para a redução do ritmo de crescimento é a política monetária restritiva do Banco Central (BC), que lança mão de juros altos para conter a inflação.

Atualmente, a taxa básica de juros, a Selic, está em 15% ao ano, o patamar mais alto desde julho 2006. Os juros altos têm o efeito de desestimular o consumo e o investimento para esfriar a economia e diminuir a procura por bens e serviços, consequentemente, tirando força da inflação.

Resiliência

No entanto, a coordenadora aponta que a economia brasileira tem demonstrado resiliência, tanto que o consumo das famílias atingiu o patamar recorde no segundo trimestre.

"Continua o dinamismo no mercado de trabalho, a gente continua com o crescimento do total dos salários reais recebidos pelas famílias, a gente continua com os programas de transferência de renda, é política fiscal ajudando", diz.

 

Recorde de salário do trabalhador

O dado mais recente de emprego do IBGE aponta que o Brasil atingiu a taxa de desocupação de 5,8%, sendo a menor já registrada na série histórica, iniciada em 2012. O levantamento mostra ainda que o país bateu recorde de salário do trabalhador, com rendimento médio mensal de R$ 3.477.

O principal programa de transferência de renda do governo federal é o Bolsa Família. O valor médio do benefício para as famílias de baixa renda está em R$ 671,54. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, o programa alcança 19,19 milhões de famílias.

Mesmo com a Selic alta, que se reflete em outras operações de crédito da economia, Palis afirma que o crédito para as famílias "continua crescendo bem".

"A gente viu uma desaceleração importante nesse saldo das operações de crédito para as pessoas jurídicas, mas não para as pessoas físicas", avalia.

Tarifaço

O comportamento das exportações brasileiras no segundo trimestre não reflete o tarifaço imposto pelo presidente estadunidense, Donald Trump, às vendas brasileiras que entram nos Estados Unidos, uma vez que só começaram em agosto.

Palis acredita que os efeitos da cobrança de tarifas serão percebidos a partir dos dados do terceiro trimestre, mas enfatizou que as exportações não têm o mesmo peso que o consumo das famílias no PIB. Além disso, a pesquisadora relativiza o papel do comércio exterior na economia brasileira, especificamente com os Estados Unidos.

"Já tem um tempo que os Estados Unidos não são mais o nosso principal parceiro comercial", lembra.