"Disparada do dólar reflete dificuldades do pacote fiscal"
Ex-ministro Henrique Meirelles: real 'não está sob ataque especulativo'
Por Marcello Sigwalt
A disparada recorrente nas cotações do dólar nos últimos dias não significa que o real estaria 'sob ataque especulativo', mas decorre da dificuldade enfrentada pelo governo federal, de aprovar o pacote de corte de gastos no Congresso Nacional.
A sentença é proferida pelo ex-ministro da Fazenda - do primeiro governo lulista - e ex-presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, ao argumentar que, "se investidores internacionais e domésticos acreditam que o país não vai ter problema à frente, compram ativos brasileiros, entram mais dólares, e o câmbio cai. Neste momento, os investidores estão preocupados com a questão fiscal. É a dificuldade que o pacote de corte de gastos está enfrentando no Congresso, com risco de ser aprovado parcialmente ou nem ser aprovado".
Em resposta às alegações de que o atual patamar do câmbio 'não estaria exagerado em relação aos fundamentos da economia brasileira", Meirelles sustenta que "a taxa de câmbio é flutuante. Então, qualquer previsão sobre o patamar do dólar, do euro, do yuan não é previsível. Aqueles que se arriscam a dizer até onde o câmbio vai podem errar. A taxa de câmbio não é determinada por analistas que dizem que determinado patamar é bom para a economia brasileira".
'Ataque especulativo' é uma situação resultante da avaliação de investidores de que uma moeda, no caso o real, está vulnerável ou fragilizada e abandonam suas posições vendendo intensivamente a divisa, criando um efeito manada'.
Sobre as frequentes intervenções cambiais do BC, o ex-presidente da autarquia explica que elas visam "corrigir ou compensar essa variação de fluxo. Felizmente o BC tem volume de reservas suficiente para manter o mercado de câmbio funcionando e tem agido corretamente". Como medida mais eficaz para 'acalmar' o câmbio, Meirelles receita que "é preciso aprovar o pacote de corte de gastos no Congresso".
