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Comportamento deflacionário afeta Selic

Por Marcello Sigwalt

A surpreendente deflação de 0,02% do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em agosto voltou a elevar o grau de incerteza, entre economistas, quanto ao comportamento do Banco Central (BC) com relação à Selic (taxa básica de juros) - atualmente, no patamar de 10,5% ao ano - no curto prazo.

Em que pese à previsível pressão sobre os preços, nessa reta final do ano, o entendimento dominante é de que a autoridade monetária deverá manter 'cautela' em relação aos juros básicos, tendo em vista a mudança recente de viés do indicador inflacionário.

Neste aspecto, a avaliação de especialistas é no sentido de que os diretores do BC devem ponderar muito, ante dados que apontam a perspectiva de inflação mais suave, ainda que 'desancoradas' e acima da meta inflacionária fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), pois estas, no momento, encostam no teto de 4,5%.

Ainda assim, persiste a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá promover uma alta da Selic, na reunião que realiza, na próxima semana. No entanto, não está descartada a hipótese de manutenção da taxa básica, face ao viés de baixa dos índices de preços.

Ao considerar que a performance do IPCA de agosto foi bastante positiva, tanto do ponto de vista qualitativo, quanto do qualitativo, o economista sênior do Inter, André Valério comenta: "Observou-se um recuo de todas as pressões observadas em julho, notadamente do núcleo e da inflação de serviços, o que diminui o receio de uma retomada do processo inflacionário".

Realista, o economista do Inter entende que o resultado de hoje (10) 'não foi bom' o suficiente para retirar as pressões sobre o BC. "Apesar de acreditamos que não faz sentido subir juros nesse contexto, a desancoragem das expectativas inflacionárias nos últimos meses terá maior peso sobre o processo decisório do Copom", argumenta.

Valério destaca, ainda, que, no mês, a média dos núcleos da inflação desacelerou para 0,24%, retornando ao nível de junho, "sugerindo que a piora observada em julho possa ter sido algum fator sazonal".