Por Marcello Sigwalt
Muito além dos números frios das estatísticas oficiais sobre a 'pujança' do mercado de trabalho 'aquecido', de pessoas ocupadas e de elevação da renda nacional, estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) - com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) - mostra que, no segundo trimestre do ano (2T24), o país apresentava 23,3% dos domicílios 'sobrevivendo sem qualquer renda formal'.
Uma das conclusões mais graves do estudo do instituto é de que a fatia de domicílios sem renda do trabalho é considerada mais alta do que a apresentada durante o período pré-pandemia, embora tenha havido 'melhora', na comparação com o primeiro trimestre deste ano (1T24), quando tal patamar era, ainda, maior, com 23,9% dos lares não possuíam ganhos provenientes de um emprego.
Já no primeiro trimestre de 2020 (1T20), no pré-covid, a proporção de família sem renda do trabalho era mais baixa, atingindo 22,7%, para alcançar o ápice da série histórica no trimestre seguinte (2T20), de 28,7% das famílias brasileiras ficaram sem qualquer rendimento do trabalho.
Na passagem do primeiro trimestre de 2024 (1T24) para o segundo trimestre deste ano (2T24), com a redução também na proporção de domicílios enquadrados nas faixas de renda mais elevadas. No grupo de renda alta, a fatia de famílias recuou de 2,7% no primeiro trimestre (1T24) para 2,3% no segundo trimestre (2T24), por exemplo. Em contraponto, aqueles grupos que registraram aumento na fatia de domicílios foram os de renda muito baixa (de 25,3% para 26,6%), renda baixa (de 11,7% para 11,9%) e renda média-baixa (de 15,3% para 16,3%).
Em consequência, o índice de Gini da renda domiciliar do trabalho - escala de 0 a 1 - manteve-se em 0,520 no 2T24, repetindo idêntico resultado do 1T24.
A conclusão do Ipea é no sentido de, apesar de a renda individual ter mantido trajetória crescente ante o mesmo período do ano anterior, houve queda da média de pessoas ocupadas por domicílio no primeiro semestre deste ano (1S24).