Por:

Campos Neto é rechaçado pela Fazenda

Fazenda reage às posições críticas do presidente do BC | Foto: Divulgação

Por Marcello Sigwalt

Por apontar o óbvio - o desajuste eleitoreiro das contas públicas, que atende às demandas perdulárias voltadas ao pleito municipal de outubro, mas 'coloca em xeque' o compromisso com o equilíbrio fiscal - o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, passou rapidamente da figura de 'parceiro relevante' para 'persona non grata' pelo Ministério da Fazenda.

Tudo por conta das declarações do dirigente monetário sobre o impacto econômico desastroso da 'frouxidão' fiscal e suposto desprezo pelas regras da política monetária, que têm servido para 'segurar' a queda mais célere da Selic nos próximos meses. A perspectiva agora é que a taxa deva cair somente 0,25 ponto percentual, e não mais em meio ponto percentual.

O 'freio' no ritmo de cortes da Selic foi admitido pelo comandante do BC, para quem, o corte menos expressivo das taxas decorre da maior incerteza global (juros que vão continuar altos pelo Fed (Federal Reserve, o bc ianque), como também da leniência federal às citadas metas fiscais.

Sob a condição de anonimato, ao menos três autoridades da Fazenda preferiram disparar contra Campos Neto, após este endurecer o discurso contra a gastança palaciana que, na prática, despreza princípios republicanos como o cumprimento das metas fiscais, sobre as quais pairam incertezas - reduzida de um superávit de 0,5% do PIB para um resultado primário zero para 2025, o mesmo valendo para o ano seguinte.

O 'estremecimento' entre a Fazenda e o BC se baseia em dois fatos políticos paralelos: as eleições municipais, em outubro próximo, e a substituição de Campos Neto, dois meses depois, por um nome mais 'palatável' ao Palácio do Planalto. Neste aspecto, o clima azedou de vez, depois que Campos Neto defendeu abertamente a autonomia (econômica, financeira e política) do BC.

A consequência imediata de tal tensão crescente é a perda de Haddad, no papel de 'bombeiro'. Em decorrência, o BC, segundo seu (ainda) timoneiro, está em 'voo cego' na política monetária, que se limita a apenas mais um corte da Selic na reunião do Copom de maio.