Por Marcello Sigwalt
Não bastasse a inconsistência federal no que tange ao equilíbrio fiscal, a incerteza renitente em relação à sucessão no Banco Central (BC) mantém o suspense do mercado em torno da manutenção do cumprimento da premissa de convergência da inflação à meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Enquanto a primeira foi projetada em 3,75% pelo boletim Focus (consulta semanal da autarquia às 100 maiores instituições financeiras do país), a segunda foi estabelecida em 3%.
Enquanto o impasse não é desfeito, cresce o temor da reedição do 'descompromisso' com a meta, relativizada pelo então presidente do BC, Alexandre Tombini, durante a gestão Dilma Roussef, seguida da queda dos juros e reeleição (será por que?) da 'presidenta'.
'Parada técnica'
Após a conveniente 'parada técnica' do pleito, a Selic só subiu, até chegar ao patamar recorde de 14.25% ao ano.
O episódio que redundou em maior carestia para o contribuinte-cidadão-eleitor ronda as cabeças dos investidores, mediante a preferência absoluta da casta petista em torno do nome de Gabriel Galípolo para assumir o posto ocupado hoje por Campos Neto.
A grande dúvida é se o sucessor manterá o crivo atento da autoridade monetária, em defesa do real, ou se será seduzido pelo 'canto de sereia' perdulário do Planalto....em ano eleitoral e de queda abismal de aprovação presidencial.
Visão pragmática
Para outros setores do mercado, porém, permanece a visão pragmática, em favor de um nome mais técnico e menos ligado ao governo, para dirigente monetário do país.
Tudo vai depender do direcionamento a ser empreendido pelo novo presidente do BC. Caso este demonstre real (trocadilhos à parte) compromisso com a meta de inflação de 3%, a ancoragem das expectativas de inflação pode ocorrer até rapidamente.
Em decorrência disso, o processo de corte da Selic, que vinha em um ritmo compassado de 0,5 ponto percentual, desde o final do ano passado, poderia ser acelerado.
