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Incerteza fiscal lança 'sombra' sobre juros

Gustavo Franco: ajuste da Selic está ligado à troca no BC | Foto: Divulgação

A indefinição da política fiscal, como reflexo de 'divergências' entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ala mais 'xiita' do governo (leia-se, servil aos ditames palacianos), reforçada pela incerteza quanto à troca de comando no Banco Central (BC), projeta uma grande 'sombra' quanto ao viés a ser adotado pela autoridade monetária em relação ao ritmo de corte da Selic (taxa básica de juros) no segundo semestre do ano (2S24), hoje em 10,75% ao ano.

É o que observa o ex-presidente do BC, Gustavo Franco, para quem "não é garantido que o que vai prevalecer como política fiscal seja estritamente o que o ministro Haddad definiu no arcabouço. Sabemos que a política fiscal resulta de influências contraditórias: uma para contrair e outra para expandir".

Embora admita não comentar decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), ao conceder entrevista ao Estadão/Broadcast na semana passada, durante o Fórum da Liberdade, realizado em Porto Alegre (RS), Franco assinalou que o colegiado estaria "chegando a um momento em que, segundo o que está escrito, vai reduzir o ritmo de queda, não a partir da próxima reunião, mas da seguinte. E que o momento de parar de cair vai chegar. A pergunta é até que nível o Copom vai cortar os juros, uma pergunta que leva ao debate sobre qual é a taxa neutra. Esse debate está aberto e vai ocorrer provavelmente até o segundo semestre, de uma forma mais operacional", avaliou o ex-presidente do BC, para quem, o 'timing' dessa definição deverá coincidir com o debate em "torno da sucessão de Roberto Campos Neto (presidente do BC), e um debate vai contaminar o outro".

Muito direto, como de costume, Franco, como diz o próprio nome, atesta que a ideia de fazer o ajuste (fiscal) pelo lado do aumento de impostos, é 'boa no discurso', face ao seu apelo progressista, mas 'é muito ruim' na prática.

"O mundo empresarial não gosta, já se paga muito imposto. E a ideia de que não tem nada para fazer na redução de despesas é errada. O governo abraçou essa ideia, e isso satisfaz um lado do governo, que é o lado petista, mas não funciona", sentenciou. (M.S.)

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