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Incerteza na troca de comando no BC põe em risco controle da inflação

Ex-diretor do BC identifica a existência de 'ruídos' na luta contra inflação | Foto: Bianca Gens (FGV)

Por falar em ruídos - termo largamente empregado pelo, ainda, presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ao se referir às suas tretas com o governo petista - o ruído da hora é justamente a indefinição quanto ao 'timing' de quando ocorrerá a troca no comando da autoridade monetária, que poderia ser antecipada, segundo admitiu o próprio, ao longo dessa semana.

O impasse cronológico agora põe em risco, justamente, a principal tarefa do BC: a convergência da inflação à meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), segundo o chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), José Júlio Senna.

De acordo com a última projeção do boletim Focus, o IPCA deverá chegar a 3,75% no final de 2024, pouco acima da meta de 3% do CMN. Outro 'ruído', observa Senna, estaria relacionado à insegurança quanto ao futuro das contas públicas.

De acordo com Senna, ex-diretor do BC, a 'desancoragem' das expectativas de inflação pressupõe o 'temor' dos investidores, de que o Copom reduza o 'empenho' de conduzir a taxa inflacionária à meta, devido à mudança no comando do BC.

As expectativas de inflação de 2026 e 2027 se mantêm 'estacionadas' em 3,5% há 39 semanas, mesmo patamar mantido, há 29 semanas, para 2025.

Sobre este fato, Senna diz que as projeções do IPCA haviam começado a cair, pouco antes da meta de 3% para este ano ser confirmada pelo CMN, no final de junho de 2023, mas logo pararam em 3,5%.

"Se houvesse confiança plena, teriam convergido para os 3%. Mas não convergiu", comenta o chefe do Ibre, para quem o problema da transição no comando do BC não tem a ver propriamente com os nomes dos cotados. "É mais uma questão da incerteza que provoca", emenda.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Páulo, Senna explicou que "as expectativas estão desancoradas por dois fatores: dúvidas sobre o futuro das contas públicas e incertezas associadas à troca de comando no BC. O problema é que o BC não controla esses dois fatores", os quais possuem 'cunho' expressamente político. (M.S.)

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