Por Marcello Sigwalt
Caso se confirmem as previsões deste ano, de uma taxa inflacionária (leia-se IPCA, o indicador oficial) entre 3,5% e 4%, para uma Selic (taxa básica de juros) por volta de 9% ao ano, a 'batalha' contra a inflação corre o risco de ser perdida.
O alerta foi lançado por gestores financeiros, que acompanham com atenção os desdobramentos da política monetária, que pode, mais à frente, 'desarranjar' o câmbio, o que poderia deflagrar nova escalada dos preços.
Ecoando o temor generalizado do mercado, o sócio-fundador da Genoa Capital, André Raduan argumenta que "a conta não fecha, a nossa meta é de 3%", ao prever que, "se o Banco Central (BC) 'referendar' (confirmar) o intervalo de inflação entre 3,5% e 4%, o índice não vai parar nisso e o IPCA pode ser até maior, porque a política monetária é meio assimétrica. É um equilíbrio bem ruim", sentencia o executivo. Raduan entende que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a princípio, não deve ceder às pressões políticas crescentes, por meio de cortes mais 'generosos' da Selic, hoje em 10,75% ao ano.
O sócio da Genoa Capital, igualmente, considera 'muito complicado' um hipotético cenário em que o boletim Focus projetasse um IPCA mais próximo de 4% (portanto, acima da meta de inflação para este ano, de 3%), enquanto o BC efetuasse novo corte da Selic. "Se o mercado comprar isso, uma Selic em 9%, com inflação em 4%, a inflação pode ser maior. O câmbio vai andar, as pessoas vão olhar a âncora monetária como menos poderosa", avalia.
Também 'tocando na ferida', o sócio-fundador do Kapitalo, Carlos Woelz, entende que "um ciclo mais forte de corte de juros é um risco para o real", acrescentando: "Já vi inúmeros ciclos de política monetária no Brasil e nunca vi as pessoas pararem em 10,25% ou 10%", ao estimar uma Selic de 9,75% ao ano, no fim de 2024.
