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Dólar caminha para maior alta mensal desde março de 2020

O dólar avançava contra o real na manhã desta quinta-feira (30), a caminho de encerrar junho -período marcado por temores globais de recessão e incertezas fiscais domésticas- com sua maior valorização mensal desde o início da pandemia de Covid-19, resultado que também encaminhava a moeda para forte ganho trimestral.

Às 9h10 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,60%, a R$ 5,2225 na venda. Na B3, às 9h10 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,66%, a R$ 5,2225 reais.

Na véspera, o dólar operou em queda frente ao real desde o início da sessão, passando a recuar com mais força durante a tarde, em um dia no qual as principais Bolsas globais operaram sem uma clara tendência definida. A política monetária nos mercados desenvolvidos e o risco de desaceleração da economia global seguiram no radar dos agentes de mercado.

No mercado local, no encerramento dos negócios, a moeda norte-americana marcava desvalorização de 1,46%, negociada a R$ 5,1900 para venda, na maior queda diária desde o último dia 15 (-2,1%). A baixa veio na contramão da valorização de 0,6% do índice do dólar contra uma cesta de divisas.

"Esta queda do dólar por aqui já faz parte do início da tradicional briga da taxa Ptax de final de mês, com os vendidos (agentes que apostam na queda da moeda norte-americana contra o real) desde hoje tentando mostrar a sua força", comentou Jefferson Rugik, presidente-executivo da Correparti Corretora.

A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para liquidação de derivativos. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar, o que geralmente eleva a volatilidade.

Operadores também atribuíram parte do enfraquecimento do dólar nesta sessão a um ajuste técnico, depois que a divisa fechou em R$ 5,2671 na véspera, nível mais alto para um fechamento desde 4 de fevereiro passado (R$ 5,3249), em seu 13° avanço em 16 sessões. É natural, depois de movimentos expressivos na moeda, haver momentos pontuais de correção na direção oposta, conforme operadores realizam lucros.

Apesar do enfraquecimento pontual -mais atrelado a fatores técnicos do que ao clima doméstico ou internacional, ambos tensos nesta quarta-, o dólar ainda avança 9,19% no acumulado de junho, e está prestes a marcar seu maior ganho mensal frente ao real desde março de 2020 (+15,92%), quando os mercados financeiros do mundo inteiro foram abalados pelo choque inicial da Covid-19.

Já na Bolsa de Valores, o índice amplo de ações Ibovespa manteve a tendência negativa observada na véspera e marcou desvalorização de 0,96%, aos 99.621 pontos. O índice doméstico foi pressionado pelas quedas das ações dos grandes bancos e da Vale e da Petrobras.

Com tal desempenho, o Ibovespa acumula agora queda de 10,53% em junho, caminhando para registrar a pior performance mensal desde março de 2020, quando desabou 29,9%, duramente afetado pelo alastramento da pandemia pelo Brasil.

No mercado local, o foco dos investidores continuou voltado às preocupações com a política fiscal.

O Senado Federal decidiu abandonar completamente o texto da proposta que buscava reduzir o preço dos combustíveis e resgatou em seu lugar a chamada PEC Kamikaze, com a concessão de uma série de benefícios em ano eleitoral, ao custo total de R$ 38,75 bilhões.

INFLAÇÃO E POLÍTICA MONETÁRIA SEGUIRAM NO RADAR NO EXTERIOR

Nos mercados internacionais, as Bolsas nos Estados Unidos oscilaram sob intensa volatilidade entre altas e baixas, para encerrar sem uma clara tendência definida, após as fortes perdas registradas na sessão anterior, impostas pela pressão inflacionária em escala global e a necessidade de aumentos de juros mais agressivos do que o inicialmente esperado para trazer os preços para baixo.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 fechou perto da estabilidade, com leve recuo de 0,07%, enquanto o Nasdaq cedeu 0,03%. Já o Dow Jones teve alta de 0,27%.

O presidente do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos Estados Unidos), Jerome Powell, disse nesta quarta que existe o risco de que os juros americanos desacelerem demais a economia da região, mas que o maior risco é de uma inflação persistentemente alta que comece a influenciar nas expectativas dos agentes para os preços nos próximos meses.

"O relógio está meio que correndo em relação há quanto tempo você permanecerá num regime de inflação baixa...O risco é que, devido à multiplicidade de choques, você comece a fazer a transição para um regime de inflação mais alta e nosso trabalho é literalmente impedir que isso aconteça, e vamos impedir que isso aconteça", disse Powell em uma conferência do BCE (Banco Central Europeu).

Embora "exista um risco" de o Fed desacelerar a economia mais do que o necessário para controlar a inflação, "eu não concordaria que esse é o risco maior. O erro maior seria falhar em restaurar a estabilidade de preços".

Powell disse que a economia americana continua "em forma bastante forte", e capaz de lidar com condições de crédito mais apertadas, evitando a recessão ou mesmo um aumento significativo na taxa de desemprego.

Nas Bolsas europeias, o sentimento de menor propensão à tomada de risco deu o tom para os negócios. O índice DAX da Bolsa da Alemanha recuou 1,73%, o CAC-40, de Paris, teve perdas de 0,90%, e o FTSE-100, de Londres, desvalorizou 0,15%.

Nesta quarta, foi divulgada a inflação ao consumidor de junho da Espanha, que ficou em 1,8% em relação ao mês anterior, muito acima das expectativas, de 0,5%. Em bases anuais, a inflação atingiu 10,2% e pressionou ainda mais o BCE (Banco Central Europeu) a reverter o estímulo monetário.

"A perspectiva de um aperto monetário mais forte nos Estados Unidos e na Europa vem atingindo os mercados de ações desde o início do ano. A maioria dos analistas de mercado acredita que uma recessão econômica nessas regiões é provável no segundo semestre", apontam os analistas da XP em relatório.

Na Ásia, o pregão foi igualmente marcado por perdas nos mercados, com baixa de 1,88% do Hang Seng, de Hong Kong, queda de 1,54% do CSI 300, da China, e de 0,91% do Nikkei, do Japão.

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