Recorde de público no 10º Festival de Japonês do CIL Gama
Celebrando os 130 anos da amizade entre Brasil e Japão, evento recebeu cerca de mil pessoas
Por Mateus Lincoln
“Eu já ouvi falar do evento, só não esperava que fosse de tão grande qualidade”, expressou um visitante surpreso ao assistir às apresentações do Festival de Japonês do Centro Interescolar de Línguas (CIL) do Gama (DF). A décima edição, realizada no sábado (6), teve como tema os “130 Anos de Amizade entre Brasil e Japão”.
O evento leva o nome de Nihon Matsuri (), que quer dizer, literalmente, Festival do Japão. A ideia é mostrar um pouco do jeito de viver e das tradições japonesas para quem ainda não conhece e, ao mesmo tempo, celebrar junto com quem já é fã das artes e expressões do país insular — tão queridas no Brasil.
No entanto, além das celebrações, o encontro também tem como objetivo arrecadar fundos para o curso de japonês do CIL Gama. Por esta razão, boa parte do trabalho que envolve a programação, a decoração e também as atrações partem de ações voluntárias, feitas por alunos, ex-alunos e parceiros da instituição.
Há um aporte financeiro governamental, mas para Veryanne Couto, a coordenadora do curso e principal pessoa à frente do evento, ainda não é o suficiente. “Fico muito feliz ao ver que formamos uma grande comunidade pelo ensino da língua japonesa e que, anualmente, retorna para ajudar a pôr de pé toda essa festa”, disse.
Este ano teve o maior público em todas as edições, em torno de mil pessoas, estimam os organizadores. Além da população local, havia caravanas vindas de outras regiões administrativas de Brasília, como o CIL Paranoá, que lotou um ônibus para levar os alunos à unidade do Gama.
“É muito gratificante ver a proporção que o Nihon Matsuri alcançou”, comentou Veryanne. “Hoje, somos reconhecidos pela própria comunidade japonesa - o que, muitas vezes, é bem difícil acontecer”, celebrou a sensei.
Além disso, a professora também comemorou o fato de o festival levar atrações culturais internacionais para um público que mora longe do centro de Brasília.
“Trouxemos lazer para pessoas que não estão acostumadas a ter divertimento desse gênero tão perto de casa. As grandes festas voltadas às tradições orientais acontecem com frequência no Parque da Cidade ou no Plano, mas não no Gama. Nós, o CIL, os alunos e ex-alunos, fizemos isso”, reconheceu.
Arrecadação e voluntariado
Com o passar dos anos, o festival foi crescendo e o público se tornando maior, a ponto de, segundo a organização, figurar entre os dez maiores eventos de cultura japonesa na capital. Todo o valor arrecadado é destinado à compra de materiais, como livros, mangás, apostilas e também à manutenção do curso.
Neste ano, a Embaixada do Japão também apoiou o Nihon Matsuri. Para fazer o ato de abertura da solenidade, esteve presente Ami Matsue, terceira secretária do Departamento de Cultura e Imprensa da delegação no Brasil.
“Fico feliz em saber que, no Gama, existe uma confraternização tão grande da cultura nipônica”, contou ela. “Como nossos países ficam longe um do outro, fica difícil que as pessoas conheçam tudo pessoalmente. Mas, pelo festival, podemos estreitar esses laços de amizade entre brasileiros e japoneses”.
Matsue compartilhou ainda que ficou encantada com a decoração, fruto do trabalho artesanal dos voluntários. “Tudo muito bonito e feito com bastante cuidado. Trata-se de uma iniciativa que alcança um público onde a embaixada não consegue chegar”, relatou ela.
Programação diversa
A grade de atividades proporcionou uma considerável variedade de opções. No auditório e na quadra, aconteciam as grandes apresentações e concursos. Enquanto nas salas de aula, os alunos montaram estandes diversos com pequenas apresentações, exposições de arte e também salões de jogos e brincadeiras.
O estacionamento do CIL transformou-se em uma pequena feira, onde algumas bancas vendiam apostilas e livros didáticos e outras comercializavam botons, mangás e figuras de ação. Havia ainda alternativas focadas na culinária do leste asiático, indo dos hypados corn dogs aos tempuras e chegando aos tradicionais doces da famosa loja Reiko.
Como atualmente o Japão não é o único representante da cultura do leste asiático no Brasil, a programação também incluiu atividades ligadas às tradições e produções artísticas da Coreia do Sul, como salas temáticas sobre k-idols (ídolos sul-coreanos) e competições de dança de k-pop (pop sul-coreano).
Principais atrações
Ao longo da tarde, alguns ex-alunos e integrantes das bandas Lunia e Maverick Hunters comandaram shows recheados de sucessos musicais dos animes e que ainda levaram ao público muita nostalgia com trilhas sonoras de jogos clássicos.
O grupo Koharu Shigure apresentou o Bon Odori, que celebra tradição e amizade entre descendentes nipônicos. Com leques e passos sincronizados, elas dançaram músicas clássicas e também canções modernas.
O público se encantou com o espetáculo cultural. Crianças, homens, mulheres e idosos, todos foram convidados pelas próprias dançarinas para participar do número final. Nesse momento, houve uma quebra de expectativas das pessoas que, durante todo o espetáculo, viram um ritualismo mais sério chegar ao ápice com a participação de todos.
Mary Kiyomi Sato explicou que a performance milenar remonta ao Obon, festival japonês que, em agosto, homenageia os antepassados falecidos. A prática tem papel importante na vida social das integrantes, a maioria acima dos 60 anos. “Estamos buscando, atualmente, outras mulheres que possam dançar conosco”, convidou Kiyomi.
O Koharu se reúne semanalmente às terças-feiras, a partir das 13h, na Sociedade Cultural Nipo-Brasileira Bunkyo, em Taguatinga (DF). Além dos ensaios, os encontros também são utilizados como momentos de confraternização entre as dançarinas.
O encerramento do festival foi marcado pelas apresentações dos grupos Matsuri Daiko (RKMD) e Kishouraku Daiko, que levaram ao palco uma performance de Taikô. A mistura de música e dança, guiada pelo som dos tambores japoneses, manteve todos atentos do início ao fim. A potência da percussão, aliada aos cantos tradicionais, reforçou a atmosfera de celebração cultural.
O Taikô, prática milenar do Japão, reúne ritmo, disciplina e expressão corporal. A cada batida, eles transmitiram não apenas técnica, mas também a força simbólica dessa tradição, que atravessa gerações. Para muitos espectadores, a apresentação foi um dos pontos altos do evento e sintetizou a proposta do festival de aproximar os presentes da cultura japonesa.
Cosplay
O concurso de cosplay atrai muitos participantes ao festival, principalmente fãs de animes e mangás (otakus e otomes) e os fãs de jogos eletrônicos (gamers). A prática consiste em caracterizar-se com os trajes de um determinado personagem. Nos concursos, ganham mais pontos as melhores caracterizações e ainda as melhores interpretações.
No entanto, cosplay não é um hobby barato. Lucas Israel, conhecido como Luke, já participou de diversas competições e, desta vez, veio trajado de Raiden, personagem do jogo Mortal Kombat 9. Ele, que se diz um “CLT comum”, conta que gastou muito com sua roupa.
“É difícil estipular um valor preciso. O chapéu e as abraçadeiras, ficaram em torno de R$950. Já o tecido da roupa também foi R$950. O tênis, que é mais simples, saiu por R$100. Já os leds embaixo dos braços e a máquina de fumaça, foram R$200 cada. Isso, somado a outros gastos, faz deste cosplay um investimento de quase R$3 mil”, calculou ele envolto em luzes e na fumaça que fazem parte da caracterização do game.
Já Amanda Soares, namorada de Luke, entrou no concurso vestida de Kitana, outra personagem do jogo Mortal Kombat. Ela comentou que começou a fazer cosplay para lidar com a timidez que carregava desde a infância - característica que se intensificou após mudar-se de São Paulo para o Distrito Federal.
“Tudo começou em uma festa à fantasia de família. Depois, fui a um evento e gostei de ter feito cosplay. Antes, não tinha coragem de ir só. Então, levava o meu irmão comigo. Mas, passei a ter uma boa receptividade do público, que me pedia fotos e isso me ‘forçava’ a interagir. Assim, desenvolvi confiança pessoal a ponto de conseguir ir sozinha - até conhecer meu namorado”, expressou Amanda.
