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Morre Milton Gonçalves, ator de 'Macunaíma' e 'Sinhá Moça', aos 88 anos

Morreu o ator Milton Gonçalves aos 88 anos, nesta segunda-feira, em sua casa no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pela assessoria da TV Globo.

O ator teve um AVC em 2020, chegou a ficar três meses internado e precisou de aparelhos para respirar. Desde então, enfrentava complicações de saúde.

Nascido em 9 de dezembro de 1933, na cidade de Monte Santo, Minas Gerais, foi casado por 50 anos com Oda Gonçalves, morta em 2013, com quem teve três filhos.

Ele ficou célebre pela vasta carreira no teatro, no cinema e na televisão, tendo em dezenas de novelas da TV Globo, como "Irmãos Coragem", "Sinhá Moça" e "O Rei do Gado". Também estrelou grandes filmes do cinema nacional, como "Macunaíma" e "O Anjo Nasceu".

Seu interesse pela profissão começou aos 21 anos, quando ganhou do amigo um ingresso que havia acabado de imprimir na gráfica onde trabalhava. Foi ao teatro, na Praça da República, em São Paulo, e se encantou de forma definitiva.

Apesar de já ter conhecido antes o cinema como espectador, se surpreendeu com os atores reais, em carne e osso, representando no palco do teatro, o que lhe pareceu mais intenso. Decidido a seguir carreira, conseguiu um papel num infantil, "O Soldado de Chocolate".

A cor negra da pele facilitando a entrada —e depois, ao longo de toda a carreira, sendo seu mote de luta para a valorização dos atores negros. No mesmo palco em que estreou, ganhou um papel em "O Dote", de Arthur Azevedo.

Durante a temporada de "O Príncipe e o Lenhador", uma noite o grande Gianfrancesco Guarnieri esteve na plateia. E gostou do que viu. Levou Milton para o Teatro de Arena, onde fervia a arte e a militância política dos anos 1950 e 1960. Trabalhou sob a direção de Augusto Boal em "Ratos e Homens", baseado no romance de John Steinbeck, e em "A Mandrágora", após fazer o papel de um escravo, acabou substituindo o próprio Guarnieri.

Em 1958, o mineiro nascido numa família de poucas posses, mudou-se para o Rio de Janeiro, que considerava um canto mais democrático e menos preconceituoso do que São Paulo.

Apaixonou-se pela cidade e, sete anos depois, foi chamado para trabalhar numa televisão que começava na rua Pacheco Leão —a TV Globo. Ali, todo o conhecimento adquirido em palcos, coxias e cabines de luz transformou-se em trabalho diário. Como ator, em "Pecado Capital", "Selva de Pedra", "Baila Comigo", "Carga Pesada", "A Grande Família", foram mais de 60 novelas e séries. Foi diretor também, como em "Irmãos Coragem" e "A Escrava Isaura", entre outros.

Ao mesmo tempo, começaram a aparecer trabalhos no cinema, tais como "O Grande Momento", "Macunaíma" e "A Rainha Diaba", pelo qual ganhou os quarto principais prêmios cinematográficos. Participou de cerca de 50 filmes. Em 2011, atuou ao lado de Grazi Massafera e Selton Mello em "Billi Pig".

Militante ferrenho pelas causas antirracistas, chegou a se candidatar ao cargo de governador do Rio de Janeiro, em 1994. Antes havia tentado se eleger deputado federal. Acabou se concentrando novamente na desestigmatização do negro na arte —e na vida. E frequentou desde sempre o candomblé.

Dentre suas atitudes para melhorar a representação dos negros no audiovisual, sugeriu em 1975 que lhe dessem um papel onde vestisse terno e gravata e tivesse todos os dentes. Mesmo sendo negro. Dali surgiu o inesquecível doutor Percival, de "O Pecado Capital", novela de Janete Clair.

 

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