Ao mestre, com carinho... da TV aberta
Emissora educativa, a TV Brasil faz jus à sua vocação ao escalar .doc de Nelson Pereira dos Santos para sua programação deste fim de semana, celebrando o legado do mítico diretor
Emissora educativa, a TV Brasil faz jus à sua vocação ao escalar .doc de Nelson Pereira dos Santos para sua programação deste fim de semana, celebrando o legado do mítico diretor
Celebrações do centenário de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018) já estão sendo pensadas, em fricção para, daqui a dois anos, o pai do cinema brasileiro moderno ganhar um festejo que faça jus a um legado que não cessa de trazer alegrias ao país e a inspirar novas obras. Há três meses, quando publicou uma lista dos cem melhores filmes da década de 1970, a partir de uma enquete com uma esquadra global de críticos, a revista "IndieWire" escalou um único título nacional para seu Panteão... e Nelson foi o seu realizador: "Como Era Gostoso O Meu Francês" (1971). Em outubro, o Festival do Rio lançou o contagiante documentário "Amuleto", dirigido por Heraldo HB e Igor Barradas, que resgata feitos autorais do realizador.
O .doc faz um resgate de "O Amuleto de Ogum", que, 50 anos atrás, rendeu o troféu Kikito de Melhor Filme a Nelson, no Festival de Gramado. Esse cult também vem sendo citado por Kleber Mendonça Filho entre as influências cinéfilas de seu "O Agente Secreto", o filme do momento em nosso circuito. Neste fim de semana, quem dá uma força - e tanto - na luta para o legado desse mestre que NPS foi se manter vivo - e acessível - é a TV Brasil. A emissora educativa que hoje ostenta uma invejável programação de longas-metragens (de Woody Allen a Selton Mello) vai exibir "A Luz Do Tom" (2013), neste sábado, às 16h. É o derradeiro trabalho do artesão que estreou por trás das câmeras com "Rio, 40 Graus", em 1955.
Nesse canto do cisne de Nelson, a trajetória do maestro Tom Jobim (1927-1994) é contada por vozes femininas. O registro conta com relatos de três mulheres importantes na vida do compositor: a irmã Helena Jobim e as companheiras Thereza Hermanny e Ana Lontra.
"Exibir 'A Luz do Tom', documentário dirigido por Nelson Pereira dos Santos, em uma TV pública num sábado à tarde, tem um significado que vai muito além da programação cultural: trata-se de um gesto simbólico e político, que afirma o papel da comunicação pública na formação da sensibilidade coletiva, na valorização da cultura brasileira e na preservação da memória audiovisual do país", explica a diretora de Conteúdo e Programação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Antonia Pellegrino.
Roteirista e escritora, Antonia é a responsável pela renovação da grade (leia-se "alma") cinéfila de um canal cujo propósito é fomentar a Educação. "Exibir 'A Luz do Tom' é uma possibilidade de reencarnar o cotidiano, além de permitir que o Brasil se veja e se escute e se reconheça — em sua luz, sua paisagem e sua música", diz ela.
Antes dessa produção escalada por Antonia para a TV Brasil, Nelson dirigiu "A Música Segundo Tom Jobim", que estreou no Festival de Cannes de 2012 e se desenha dramaturgicamente como se fosse uma carta de amor musical a um artista revolucionário que Nelson admirava.
"O Tom, para o Nelson, era a melhor expressão da alma brasileira", explica o cineasta e poeta Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, que foi assistente do diretor de "Vidas Secas" (1963) de 1966 a 1973. "Quado a TV Manchete foi inaugurada, (seu presidente) Adolfo Bloch convidou Nelson para realizar a linda vinheta de abertura da emissora, que era uma logomarca de um M sobrevoando cidades brasileiras. Em seguida, Nelson dirigiu por lá um programa sobre música brasileira, 'Bar Academia'. Foi aí que ele e o Tom ficaram muito amigos e surgiu a ideia que veio a se tornar esse par de documentários sobre o músico".
Nos streamings, tem Nelson a rodo, começando por "Rio, 40 Graus" na Netflix. Já a Prime Video da Amazon tem em sua grade "Rio, Zona Norte" (1957) e "Brasília 18%" (2006).
"Tem uma demanda permanente pela obra do meu pai", diz a produtora Márcia Pereira dos Santos, filha do cineasta e uma das guardiãs de sua obra. "Ele brincava que tinha uns 20 espectadores, mas que eram fiéis, pois assistiram seus filmes durante 50, 60 anos".