Selton Mello e Seu Jorge na temperatura da invenção

TV Brasil resgata 'Soundtrack', pérola que simula o frio do Ártico no Polo de Jacarepaguá, sob a grife dos diretores de 'Tarantino's Mind'

Por Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Selton Mello em 'Soundtrack', hoje na TV aberta

Muita água rolou no cinema para Seu Jorge e Selton Mello desde que o curta-metragem "Tarantino's Mind", da dupla 300 ML que abriu o Festival do Rio, em 2006. O cantor carioca volta à telona ano que vem em "Geni e o Zepelim", de Anna Muylaert, depois de ter brilhado no exterior em comédias de Wes Anderson e no papel título do "Marighella", de Wagner Moura, projetado na Berlinale de 2019. Já o astro mineiro, que vai presentear o Natal dos americanos atuando na nova versão de "Anaconda", dirigiu sucessos ("O Palhaço"), emplacou série popular ("Sessão de Terapia") e ajudou "Ainda Estou Aqui" a ganhar o Oscar, em fevereiro.

É curioso ver os dois juntos numa segunda triangulação (agora um longa) com o 300 ML em "Soundtrack", uma iguaria de 2017, pouco vista em circuito, mas resgatada pela TV Brasil. Tem projeção dessa joia às 21h, nesta quarta, na emissora educativa. Trata-se de uma ave rara da dramaturgia nacional, com a presença de um elenco internacional de peso.

Uma temperatura estimada em 8 graus fazia justiça ao cenário glacial reproduzido nos sets cariocas desse drama existencial, com toque de humor, ambientado na imensidão gelada do Ártico. Uma réplica das estações de pesquisa no gelo foi instalada no Polo do Audiovisual, nas imediações de Jacarepaguá. Sob o chão das locações encontravam-se três toneladas de neve sintética, feita de celuloide. No espaço, avistavam-se contêineres de pesquisa, inspirados por uma consultoria da Marinha Brasileira.

Além de Selton e Seu Jorge, Ralph Ineson, ator inglês conhecido aqui como o protagonista do filme de terror "A Bruxa" (2015), buscava os holofotes nesse longa de R$ 8 milhões. A produção é de Julio Uchôa da Ananã, empresa que contabilizou 3,5 milhões de ingressos vendidos pela franquia "SOS - Mulheres ao Mar".

Na trama, um encasacado Selton vive o artista plástico Cris, um autor de ensaios fotográficos disposto a conseguir material para uma nova exposição ao desbravar a vida no Ártico. Seu Jorge vive o botânico Cao, um dos cientistas que estranham a presença de um artista como Cris.

A concepção visual teve a participação do multiartista visual Oskar Metsavaht, famoso por sua luta em prol da preservação da natureza e da sustentabilidade. Ele trabalhou nas fotos feitas por Cris.

Em busca de realismo, "Soundtrack" contou com imagens captadas na neve da Islândia para dar mais veracidade à sua representação do frio. Acabadas as filmagens, iniciou-se um intenso trabalho de pós-produção, para imprimir a devida força ao vento, à nevasca e todas as intempéries que torna ainda mais árdua a luta em prol da sobrevivência dos personagens. O resultado é um estudo sobre resiliências, de bater o queixo.