Anfitrião de Kleber Mendonça Filho em Madri, na projeção de "O Agente Secreto" para as autoridades culturais da Espanha, Pedro Almodóvar tem um filme novo para lançar em 2026 - estima-se que em maio, para concorrer em Cannes - chamado "Amarga Navidad", com uma de suas divas, Rossy de Palma, ao lado de Aitana Sánchez-Gijón, Milena Smit e Leonardo Sbaraglia. Esse novo "almodrama" se passa durante um Natal e acompanha a angústia de uma mulher que é abandonada às vésperas do 25 de dezembro.
Encerrado no sábado, o 73º Festival San Sebastián aumentou a expectativa pelo novo exercício autoral do diretor mais famoso de seu país ao conceder um prêmio honorário a uma das fieis colaboradoras do realizador de "Fale Com Ela" (2002), a produtora Esther García. O troféu de honra galardoado a ela simboliza mais do que um reconhecimento de carreira: é a comemoração da fase de euforia que o audiovisual ibérico se encontra, com títulos premiados nas maiores competições de longas-metragens do planeta e chances de chegar ao Oscar 2026 com "Sirât", que Esther produziu, na El Deseo. Sua passagem pela maratona cinéfila basca foi consagradora.
A produtora dos irmãos Almodóvar, Agustín e Pedro - que conta com a colaboração de Esther há uns 30 anos, desde "A Flor Do Meu Segredo" - integra o núcleo de produção "Sirât", que ganhou o status de "filme obrigatório" por apostar num casamento (raro) de transcendência espiritual e experimentação formal ao falar de perdas e reconfigurações. É político em sua radiografia da falta de pertencimento entre as populações da Europa que não se rendem a regras históricas do capitalismo. Tratado como um dos favoritos à Palma de Ouro de 2025 desde sua projeção inicial, deixou a Croisette com o Prêmio do Júri, dado a seu diretor, o galego nascido em Paris Oliver Laxe, num empate com o filme alemão "Sound of Falling", de Mascha Schilinski. Ambos estarão na Mostra de São Paulo, que começa no dia 15 de outubro.
Laxe filma uma rave no deserto. Em meio ao bate-estaca, um pai (Sergio López) procura sua filha, há muito desaparecida. No ar, o êxtase é literal. No chão, há minas. No espírito de seu personagem principal reside a esperança, alimentada pelo amor paterno.
San Sebastián recebeu de Cannes outra joia catalã, "Romería", de Carla Simón, que terá sessão no Festival do Rio, cuja abertura será nesta quinta-feira (2), no Cine Odeon. A diretora assegurou à sua pátria o Urso de Ouro, em 2022, com "Alcarràs", hoje na grade da MUBI. Seu novo longa acompanha a jornada de uma jovem órfã atrás da família do pai, reabrindo feridas de uma Espanha que se drogou à pampa ao fim do franquismo.
Um fenômeno comercial com CEP da Catalunha se fez notar em San Sebastián com a exibição de "Mi Amiga Eva", de Cesc Gay. O longa é um aulão de perseverança dado pelo comediógrafo por trás de sucessos como "Trumán" (2015). Na telona, a atriz Nora Navas atua com fôlego titânico no papel de Eva, que, prestes a completar 50 anos, cansou da rotina. Ela é casada há duas décadas e tem dois filhos adolescentes. Durante uma viagem de negócios a Roma, Eva percebe que precisa se apaixonar novamente antes que seja "tarde demais".
Há um ano, quem ganhou a Concha de Ouro de San Sebastián foi um ensaio documental de Albert Serra, xodó da crítica francesa, aclamado por escribas da "Cahiers du Cinéma", o periódico mais respeitado da cultura cinematográfica desde 1951. Ele venceu com "Tardes de Soledad", que passou pelo Brasil no Olhar de Cinema, de Curitiba. Encarado desde a sua primeira exibição pública como um gesto de ousadia e um convite à provocação, o longa confronta um objeto de estudo dos mais indigestos para os novos tempos: a tradição da tourada. Ao seguir o dia a dia de um toureiro peruano visto como celebridade em seu ofício, Andrés Roca Rey combate o machismo e também a naturalização da violência contra os animais inerentes àquela tradição de seus conterrâneos.
Este mês, a Espanha vem lotando salas com "El Cautivo", de Alejandro Amenábar ("Os Outros" e "Mar Adentro"), sobre a juventude do escritor Miguel de Cervantes em incursão por terras argelinas.