De repente bateu saudade de uma daquelas coisas que hoje são impossíveis, mas que eram tão fáceis há 30 ou 40 anos - é que 30 ou 40 anos passam muito rápido e a gente nem se dá conta.
A liberdade da praia à noite, por exemplo, quando eu morava em Copacabana. Se estivesse entediado por volta da meia noite, podia pegar, botar um chinelo no pé, descer a Figueiredo Magalhães e ir para areia olhar o mar. De repente, bater um papo com alguém.
Sempre tinha algum amigo na rua. Sem atrapalhar muitos casais na orla e o romance ali na madrugada. A turma fumando seu beck numa boa.
Em Copacabana, tudo era mais fácil de se viver, com pouco ou nenhum dinheiro você descia e batia um papo. Se fosse um pouco mais cedo, pegava uma bola e ia chutar na areia, fazer uma uma dupla de praia ou mesmo montar um amistoso contra o time surgido na hora. Enfim, essas coisas todas eram muito divertidas e dá para fazer sem ter medo de ser esfaqueado assassinado à noite. Porque hoje já não é infelizmente viável, devido à violência.
Uma ou duas da manhã, às vezes até três, sem variável encontrar e variavelmente encontravam alguma amiga, alguma musa da madrugada. Sempre tinha alguém por perto, literalmente você nunca se sentia sozinho em Copacabana. Fiz isso muitas vezes, algumas saindo de casa mesmo depois que meus pais dormiram, outras voltando do Maracanã de algum jogo do Fluminense, outras ainda do nada: sair, simplesmente revolver a praia para olhar o mistério daquele mar, aquele barulho do Atlântico Sul.
E faltava numa boa Copacabana. Não era exatamente o Mar de Rosas, mas não dá nem para dizer "Gente o que era o que se tornou porque o Rio de Janeiro ficou assim, o Brasil ficou assim, o mundo ficou assim mais agressivo, mas violento e mais em piedoso.
Tudo passa tão rápido, tudo passa tão rápido que é difícil acreditar que estou falando de 1988, 1990 ou sei lá 1993 ou 1994, mas sinto uma falta enorme.
Acho que eu nunca me recuperei ter sido obrigado a mudar de Copacabana e nem era pelo eu não tinha nada que fazer, né? Eu era pobre, dependia de família, meu pai estava vivendo uma situação muito ruim de dinheiro. A gente não teve alternativa; nunca mais consegui voltar, não foi uma escolha. Mas até hoje eu fico pensando no bairro, fico pensando na noite, evidentemente tudo agora é diferente dos perigos. Tá tudo uma série de situações, mas é sempre chance, ele tá ali pertinho nem fosse para tomar um chopp, às vezes ou conversar com algum amigo, um amigo querido que já nem moro mais por lá, já não tem mais ninguém por ali,seria uma verdadeira idade.
O tempo passa, ele é implacável, a gente vai vivendo como pode. A saudade bate e nos dá sustos, a gente respira fundo e prossegue.