Jazz para Woody Allen

Neste 2025 em que completa 90 anos, Woddy Allen é celebrado com exibição de 'Blue Jasmine' na TV aberta e show que destaca a relação de seu cinema com a música, o jazz em particular, em show no Blue note Rio

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Cate Blanchett Estrela 'Blue Jasmine', que ganha espaço na TV aberta

No próximo sábado, às 16h, a TV Brasil vai exibir "Blue Jasmine" (2013), que ganhou 56 prêmios, a se destacar o Oscar de Melhor Atriz para a australiana Cate Blanchett, e rendeu uma indicação à estatueta hollywoodiana para seu roteirista e realizador, Woody Allen. Foi a última vez que ele concorreu, antes de ser "cancelado" por acusações - até hoje nunca provadas - feitas pela filha adotiva, Dylan, e sustentadas por sua ex-companheira, a atriz Mia Farrow.

Patrulhado, ele não teve mais chance de produzir com o mesmo fervor de outrora, emplacando uma média de um longa-metragem por ano no passado. Nada mais lançou depois de "Golpe De Sorte Em Paris" ("Coup de Chance", 2023), feito na França, onde segue sendo admirado como um dos cineastas de maior relevo da História. "Meia-Noite Em Paris", com que abriu o Festival de Cannes de 2011, finca sua trama na capital francesa, onde consumiu US$ 17 milhões para ser rodado, mas faturou US$ 151,7 milhões, além de ter sido oscarizado com a láurea de Melhor Roteiro.

Esse é o filme que serve de reclame para o show O Jazz De Woody Allen, que o saxofonista, flautista e clarinetista Dado Magnelli apresenta nesta quinta-feira, às 22h30, no Blue Note, na orla de Copacabana, em homenagem ao diretor que virou pilar do riso nas comédias de amor. Um diretor que chega aos 90 anos no próximo 30 de novembro.

 

Divulgação - Clarinetista amador, Woddy Allen sempre celebrou a união entre cinema e jazz em seus trabalhos como diretor

Esse espetáculo circunda a tradição jazzística de um cinema que inclui clássicos melódicos dos EUA em toda a sua filmografia na direção, inaugurada com "O Que Há, Tigresa?", em 1966. É uma forma de seu aniversário ser lembrado com carinho e paz. Da TV aberta brasileira, graças ao empenho da já citada TV Brasil, Woody não arreda pé. Aos fins de semana, sempre tem um título dele, da lavra lançada aqui pela Imagem Filmes. Dublado no Brasil por Élcio Romar, ele já teve até a "Tela Quente" da Globo a seus pés.

Existe um boato de que ele volte a filmar este ano, fazendo da Espanha a base de locação de seu novo exercício autoral. A pátria de Almodóvar lhe trouxe sorte no passado, com "Vicky Cristina Barcelona", que custou US$ 15 milhões e faturou US$ 96 milhões, em 2008, além de render um Oscar à atriz Penélope Cruz. É nessa mesma cidade que ele deve trabalhar, a julgar por uma recente visita que fez por lá. Em 2020, em plena pandemia, outro terreno espanhol, San Sebastián, acolheu Allen na abertura de sua aclamada maratona cinéfila anual ao exibir "O Festival do Amor" ("Rifikin's Festival"). A trama se passa por ali e tem estrelas ibéricas como Elena Anaya e Sergi López no elenco. Há como aluga-lo na Prime Video da Amazon. Muitos sucessos de Woody podem ser vistos no streaming da empresa, embora ela tenha rompido um contrato milionário com o artista, à força de polêmicas, prejudicando a carreira comercial de seu "Um Dia De Chuva Em Nova York", lançado a duras penas em 2019.

Nas livrarias brasileiras, editoras como a Agir, a Nova Fronteira e a L&PM lançaram pérolas literárias de Woody, como "Fora de Órbita", "Gravidade Zero" e "Pura Anarquia". Sua autobiografia saiu aqui pela Globo Livros, traduzida por Santiago Nazarian, inflamada de controvérsias.

O que vai se ouvir no Blue Note na quinta não passa por feridas abertas, mas sim pelo vasto repertório musical que Woody, um clarinetista amador, ajudou a consagrar, ao emprestar seus ouvidos de fã de jazz à dramaturgia romântica. Certos titãs da pintura também estão sempre nas pupilas daqueles olhos escondidos sob lentes grossas. "Se eu sou um gênio, Rembrandt é o quê?", perguntou Woody numa entrevista de 2006.

Sabe-se que Bergman (seu deus maior, assim no Céu como na tela), Fellini, Renoir e Kurosawa também formam seu panteão de artistas de formação e de culto, tal qual Buster Keaton. Leu Machado de Assis, mas cita mais Dostoiévski e o "Velho Testamento" do que o Bruxo do Cosme Velho.

Sempre que escreve "causos" (em forma de longas), ele arquiteta suas tramas levando consigo a sabedoria judaica na qual foi criado e da qual, por vezes, faz troça. "Roteiros não são literatura. Roteiros são rascunhos para se achar um filme".

Como esquecer(mos) do ator fora de foco vivido pelo saudoso ator Robin Williams em "Desconstruindo Harry", de 1997? Como não se surpreender com o personagem em trajes de safári que sai da tela em "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985) para clamar por sua paixão de carne e osso? Como deixar de lado o corifeu edipiano de "Poderosa Afrodite" (1995). São toques de fantasia, por vezes de surrealismo, numa carreira que se imortalizou à força da gargalhada alheia. Que o show de Dado Magnelli seja um "parabéns pra você" sereno para um futuro nonagenário.