Por: Aldo Tavares | professor-mestre em Filosofia

MORA NA FILOSOFIA: Papo com Gilles Deleuze

Gilles Deleuze | Foto: Reprodução

Encontrar pessoas é encontrar palavras, e eu as encontrei na Universidade de Paris 8 Vincennes-Saint Denis, logo após Deleuze ter lecionado na sala Hegel. Em 18 de janeiro, comemoraram-se 95 anos deleuzianos com palavras que rejuvenescem a luta política, porém não compreendidas no Brasil até hoje.

Qual a razão de o movimento negro brasileiro ir contra seu pensamento?

Ele defende o conceito de diferença de forma errada e, por conseguinte, o conceito de identidade.

Por quê?

Porque o conceito de diferença não é a afirmação contrária entre duas identidades, por exemplo, branco e preto, ser e não-ser. Em termos de pensamento, herdamos de Hegel essa ideia de diferença, que Marx apenas reproduziu, mas diferença, a partir do ser, não é isso.

Então, o que é diferença?

Existe a filosofia incomum, pensada por Nietzsche, por Foucault, por mim; e existe o conceito comum de diferença, o de Hegel e que circula na sociedade, só que encontrar a origem filosófica dessa diferença é incomum, o que torna difícil explicar em uma entrevista para jornal.

E sobre Karl Marx ter invertido a dialética hegeliana?

Ele a inverteu, apenas se esqueceu de dizer que inverteu o errado, pois, no que diz respeito ao ser, a dialética hegeliana é um erro contra o pensamento filosófico, já que o conceito de diferença, repito, não é oposição entre identidades, e o princípio dessa oposição é por causa do ser.

Mesmo sendo para espaço de jornal, por favor, fale um pouco sobre o que fundamenta sua crítica a Hegel, que é a questão do ser.

Como eu disse, uma entrevista em espaço muito reduzido é imprópria; mas, me contradizendo, digo que o ser hegeliano precisa da negação, ou seja, precisa do não-ser, e Hegel faz isso porque, dessa forma, surgindo a negação externa, que é o não-ser, surge a ideia de diferença.

E existe outra negação?

Sim, existe a negação interna, que é a negação do próprio ser, quer dizer, sendo interna, não há o outro, não há o fora, enfim, não há oposição entre ser e não-ser.

Não há, então, oposição entre opressor e oprimido?

Na história, há vários momentos em que o opressor se identifica com o oprimido, assim como o oprimido se identifica com o opressor, não havendo, portanto, conflito, oposição. Dominar de forma astuciosa não é criar oposição, mas criar identidade.

Saberia dar um exemplo na história do Brasil?

O da colonização, ele nos mostra a imagem expoente do padre José de Anchieta, que é a imagem do poder sacerdotal, aliás, poder muito bem pensado por Nietzsche, porque esse poder não tem a marca da oposição, muito diferente do que Marx pensa.

 

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