Por: LUÍS PIMENTEL JORNALISTA E ESCRITOR

Ziraldo, a dor e a delícia

Tive a honra e a alegria de participar ativamente das últimas experiências jornalístico -empresariais que o Ziraldo achou por bem inventar, para o bem de tantos: a revista de humor e ideias Bundas, o jornal idem Opasquim21 e a reforma gráfica e editorial do Caderno B do Jornal do Brasil.

Todas elas, sucessos editoriais gigantescos e fracassos financeiros retumbantes.

Graças a essas experiências - que me trouxeram amizades, jogo de cintura e cabelos brancos - pude viver a dor e a delícia de conviver o dia a dia de sua casa, seu estúdio e a correria estimulante das redações. E nada traz mais estímulo profissional a uma pessoa de criação do que ver o Ziraldo criando. De aprender com a sua criatividade, generosidade, desprendimento.

A dor é porque se trata de um trator em movimento, que não permite quem está ao seu lado sequer parar para respirar; a delícia porque dessa refrega brotam, inevitavelmente, turbilhões de aprendizados. Todos eles para o resto da vida de quem com ele convive ou conviveu.

Um dia, vendo Ziraldo riscar um projeto de páginas para a revista, enquanto finalizava uma charge, revisava um texto e montava mais um livro infantil, perguntei admirado:

- Cara, como é que você consegue produzir tanto?

E ele, despejando despretensiosamente o ensinamento que guardei, adotei e hoje uso como um mantra:

- Porque faço, ao invés de ficar pensando em fazer. O tempo que se perde sonhando é o mesmo que se ganha realizando.

Por isso fez tanto e tão bem.

Tudo em Ziraldo Alves Pinto, o mineiro mais carioca e ipanemense que conheço, é intenso: a declaração de amor sem peias, a crítica sem comiseração e sempre construtiva, o afeto que transborda e não se encerra, o abraço sempre apertado, verdadeiro e caloroso, estampado numa foto que guardo comigo com carinho - um dos tantos que trocamos.

Nascido em Caratinga (MG), em 1932, Ziraldo começou a publicar seus primeiros desenhos no comecinho da década de 1950, em Belo Horizonte, no jornal A Folha de Minas. Em 1955 se integrou à equipe do jornal O Binômio, dirigido pelo bravo José Maria Rabelo, e logo foi chamado para trabalhar no Rio de Janeiro, em O Cruzeiro, onde desenhou, diagramou, escreveu, editou e se apaixonou pelo humor e pelas ideias independentes e criativas.

Em jornais e revistas, Ziraldo publicou charges diárias, criou, editou e desenhou páginas de cartuns, e dedicou-se à atuação política no recém-lançado semanário Pasquim, no final dos anos 1960. Criador de personagens marcantes nos quadrinhos e na literatura (Pererê, Menino Maluquinho, Jeremias o Bom, Supermãe, Mineirinho Comequieto e outros), ele é considerado um mestre por vários cartunistas. E posso garantir que é mestre, também, na arte da amizade.