Paulo-Roberto Andel: Onde estava o dinheiro?

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Imagem criada com a IA Dalle 3

Ok, tá todo mundo duro. E não é de hoje. Dia desses mesmo, eu fiquei conversando com meu amigo Marco Antônio no rodízio de massas, para tentar entender como que a gente conseguia fazer tanta coisa na adolescência com pouco ou nenhum dinheiro.

Éramos literalmente duros, mas a gente acampava quase todo mês, jogava bola toda semana com a quadra paga no Corpo de Bombeiros da Xavier da Silveira. Aos sábados, sempre lanchávámos no Supermercado Leão. Um ficava admirando o sanduíche do outro. Isso quando não passávamos pelo Bob's, McDonald's e o fabuloso Gordon, que merece um livro inteiro. Estávamos sempre no Maracanã também. Quarta e domingo. De quebra ainda tinha um ou outro show de artistas nacionais e estrangeiros.

Gente, de onde é que vinha todo aquele dinheiro? A gente mal ganhava mesada, eu não consigo me lembrar direito dessa relação de grana na primeira metade da década de 1980. E olha que a gente vivia tempos de uma inflação enlouquecida, às vezes batia coisas de 50, 60 e até 70% ao mês, um negócio enlouquecedor, você nem sabia mais como é que se escrevia o nome da moeda e nós vivíamos bem, dentro do possível.

Como é que a gente fazia ao certo eu não sei dizer, mas realmente dava tudo certo e não tinha lá grandes preocupações. Uma vida modesta, usando ao máximo a praia de Copacabana como área de lazer, esporte e paradigma de vida. E, claro, sem boletos. Meu pai me dava um trocadinho, eu vendia botão, figurinha, revistinha, qualquer coisa que pudesse.

A única conta que sempre dava certo era a dos acampamentos escoteiros. Ninguém deixava de ir, ninguém. O dinheiro arrecadado era dividido para todos. Foi uma grande experiência de vida. Até hoje sigo o grupo no Facebook e fico lembrando de uma época maravilhosa da minha vida. Os anos 1980 eram o caos, mas eu vivia bem.

Então damos um salto no tempo e avançamos 40 anos.

Claro que o Brasil passou por uma crise absoluta e só mais recentemente conseguiu se recuperar de um massacre econômico. Mas, sinceramente, as coisas estão caras, caras demais. Um show é praticamente inviável em termos de preço. Aquele Maracanã baratinho há muitos anos desapareceu. Hoje é uma fortuna. Um lanche, um simples lanche pode começar custando R$ 40 num fast food ou num lugar um pouquinho mais arrumado. O prato de comida a quilo também, dificilmente você vai gastar menos de 35 pilas por refeição. É dinheiro demais.

Às vezes fico pensando que ser um garoto nos dias de hoje, um adolescente, seria infinitamente mais difícil, mesmo não tendo aquela inflação maluca do passado. Como ia fazer para poder ter hoje aos 13 anos a vida que eu tinha 40 anos atrás? Impossível. Sempre houve exclusão, mas atualmente parece cada vez mais grave por conta da questão econômica.

Bem sabemos que o desemprego diminuiu consideravelmente nos últimos anos, mas às custas de um trabalho precarizado e com renda bastante limitada, o que acaba impedindo as pessoas de ter uma vida realmente digna: apenas sobrevivem. É injusto demais. Todos mundo merece um pouco de felicidade, mesmo na pobreza.