Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA / TEATRO / VIRGINIA: Uma mulher em movimento

Cláudia Abreu dança, gira, se desfaz e se recompõe em cena | Foto: Divulgação

Cláudia Abreu criou e protagoniza o monólogo "Virginia", inspirado na obra e na vida de Virginia Woolf. A peça parte de um relato que mistura ficção e autobiografia, mergulhando na mente da escritora britânica e nos ciclos da existência, com destaque para a condição feminina.

Sob direção sensível de Amir Haddad, a encenação valoriza o corpo da atriz como extensão da palavra. Com movimentos marcantes e expressivos, Cláudia não apenas interpreta, mas incorpora Virginia, explorando emoções com força cênica e presença marcante no palco.

O figurino assinado por Marcelo Olinto é outro destaque essencial da encenação. Um longo branco, que evoca tanto os vestidos de verão do fim do século XIX quanto a espuma das ondas, acompanha com fluidez os movimentos da atriz. Mais do que um traje, o figurino é uma extensão do mar interno de Virginia — ora calmo, ora revolto. É ao mesmo tempo histórico e simbólico, remetendo ao tempo da personagem e à atemporalidade da luta feminina.

Sob a direção de movimento de Marcia Rubin, Cláudia dança, gira, se desfaz e se recompõe em cena. O corpo se transforma em tradutor da loucura, da introspecção, da sensibilidade, do amor impossível por Vita Sackville-West e da complexa relação com o marido Leonard Woolf. Cada gesto é medido, cada pausa é densa — a cena pulsa com vida.

O texto de Cláudia Abreu, livremente inspirado na obra de Woolf, rompe com a linearidade e se aproxima da técnica do fluxo de consciência, criando uma narrativa viva e emocional. A peça percorre temas ainda profundamente atuais: o papel da mulher na criação artística, a luta por espaço intelectual, o peso das expectativas sociais, a solidão e os embates internos da identidade feminina. A atualidade de Virginia salta aos olhos — e toca fundo.

SERVIÇO

VIRGINIA

Teatro Nelson Rodrigues (Av. República do Paraguai 230, Centro)

Até 11/5, sexta (19h), sábado e domingo (17h)

R$ 30 (balcão) e R$ 40 (plateia)