Há dois anos em turnê de sucesso pelo país, "A luta", com Amaury Lorenzo, volta ao Rio de Janeiro para duas apresentações, nos dias 11 e 12 de janeiro, no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea. Com direção de Rose Abdallah e dramaturgia de Ivan Jaf, o monólogo teatral é baseado na terceira parte do livro "Os Sertões", o clássiuco de Euclides da Cunha (1866-1909), que transforma o ator em um rapsodo.
O personagem conta, em uma longa prosa épica, as batalhas ocorridas em Canudos, em 1896, entre os homens e mulheres chefiados por Antônio Conselheiro e as forças militares da República, recém-proclamada no Brasil (1889). Lorenzo foi indicado aos prêmios Cesgranrio e Fita de Melhor Ator pelo trabalho, e atualmente também se destaca como o personagem Chico, da novela "Volta por Cima".
Os rapsodos cantavam a Ilíada e a Odisseia, de Homero, mantendo essas longas epopeias vivas pela fala e a memória, antes de poderem ser escritas. Da mesma maneira, podemos imaginar a Guerra de Canudos, segundo a visão de Euclides da Cunha, sendo narrada por um "contador de história" diante de uma plateia. Um só ator, usando a fala e o corpo, conta as sucessivas investidas do exército brasileiro contra o arraial e a reação de seus habitantes.
"Este texto fala da construção da identidade brasileira. O que me impressiona na obra do Euclides da Cunha é a riqueza de detalhes. É como se você sentisse o cheiro daquela guerra, você sentisse o cheiro daquelas pessoas. E nossa adaptação tem o objetivo de levar essa narrativa poderosa a mais gente. Muitos vão ao teatro porque me conhecem pela televisão, mas acabam tendo uma aula de história, e se emocionam. Quando a gente entende de onde veio, tem mais possibilidades de construir um futuro melhor", analisa Amaury Lorenzo.
Nessa terceira e última parte de "Os Sertões", Euclides da Cunha criou uma simbologia poderosa, abandonando a linguagem acadêmica para traduzir jornalisticamente uma guerra de ideias: a luta entre as forças republicanas, que traziam a modernidade, contra o obscurantismo religioso, que alicerçava a monarquia; os brasileiros do litoral contra os do interior; as elites contra o povo; a fé contra a razão, para concluirmos que os dois lados acabaram se unindo pela intolerância e a violência.
"O espetáculo 'A Luta' retrata um momento em que duas narrativas que sempre permearam nossa história entraram em conflito: o obscurantismo religioso e a prepotência militarista. É uma guerra arquetípica, mitológica, portanto será sempre atual para entender a formação do Brasil. É uma peça para nos questionar enquanto sociedade. O retumbante fracasso dos dois lados, a violência sem sentido de ambas as partes, é o resultado da nossa triste ignorância, que infelizmente perdura", descreve a diretora Rose Abdallah.
SERVIÇO
A LUTA
Teatro Clara Nunes (Shopping da Gávea - Rua Marquês de São Vicente, 53, 3º piso)
11 e 12/1, sábado (21h) e domingo (20h30)
Ingressos entre R$ 50 e R$ 140