Por: Affonso Nunes

Chico Anysio, o homem de 209 faces que buscavaum personagem

Chico Anysio | Foto: Divulgação

O Globoplay estreia nesta quinta-feira (25) "Chico Anysio: Um Homem à Procura de um Personagem", série documental dirigida por Bruno Mazzeo que mergulha na trajetória de um dos artistas mais talentosos e versáteis que o Brasil já produziu. Sua versatilidade extraordinária o levou a criar uma galeria de 209 personagens humorísticos que se tornaram ícones da televisão brasileira e autênticos espelhos da diversidade social brasileira.

Bruno Mazzeo é um dos oito filhos do humorista que morreu em março de 2012, aos 80 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos decorrente de um problema pulmonar crônico. "É uma homenagem ao Chico Anysio. Mas as pessoas vão ver, sim, a trajetória dele, mas também suas incertezas e inseguranças. Ele teve muitos casamentos, muitos filhos, mudou de time, de opiniões, fez muitos personagens. E, talvez, tenha feito tantos porque estava em busca de quem era", conta o diretor sobre o projeto. Continua na página seguinte

 

Uma personalidade complexa

Justo Veríssimo, o deputado corrupto que odiava a população pobre, segue atual | Foto: Divulgação

Dividido em cinco capítulos, o documentário explora os antagonismos de uma personalidade complexa: Chico Anysio foi, por décadas, o artista com o maior salário do Brasil e ainda assim morreu deixando quase nada para seus descendentes. Teve seis casamentos, incluindo o relacionamento com a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, além de relações conturbadas com colegas de trabalho.

"A gente conversava bastante, eu me interessava por ele. Mas a maioria das pessoas do doc o conheceram antes de mim, viram a formação dele", revela Bruno, que gravou na casa onde Chico nasceu, em Maranguape. "Vi meu pai com 50 anos, já consagrado. Mas tenho irmão que o viu ficar famoso morando num apartamentozinho, correndo atrás de sonhos, com ambições e inseguranças. Juntei um quebra-cabeça e consegui formar um retrato", explica.

Entre as criações mais memoráveis de Chico Anysio estão o Professor Raimundo, com suas aulas nonsense que satirizavam o sistema educacional; o político corrupto Justo Veríssimo, que nunca perdeu a atualidade; o locutor Roberval Taylor, paródia dos comunicadores radiofônicos; o vampiro Bento Carneiro, que transformava o terror em comédia; o jogador estrábico Coalhada, que ridicularizava os estereótipos do futebol brasileiro; e Baiano. uma paródia a Caetano Veloso e à Tropicália. Esta parceria com o ator e músico Arnaud Rodrigues que nasceu em seu programa de TV Chico City fez tanto sucesso que se desdobrou em três álbuns.

Cada personagem funcionava como uma lente de aumento sobre aspectos específicos da cultura e dos costumes nacionais, revelando contradições e peculiaridades com humor inteligente e observação aguçada. Em entrevista ao fantástico no último domingo (21), arriscou-se a dizer que personagem que talvez mais se encaixasse na personalidade do pai era Pantaleão, o contador de causos.

Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho nasceu em Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza, em 12 de abril de 1931, filho de um empresário do setor de transportes. Mudou-se para o Rio em 1938, quando o pai enfrentou sérias dificuldades financeiras.

Sem grandes planos na área artística inicialmente, Chico acabou na Rádio Guanabara, onde perdeu um concurso de locutor para Silvio Santos, mas entrou para o elenco de radioatores, trabalhando ao lado de Fernanda Montenegro. "Falar de colegas da dimensão dele toca o coração (…) Era uma comunidade de jovens à procura de um aperfeiçoamento para chegar em algum lugar, que não era o tradicional. Nós tínhamos uma fome de cultura. A rádio foi a minha universidade. Não nos largávamos", afirma a atriz em depoimento dado a Bruno Mazzeo para o documentário.

Macaque in the trees
Com Bruno Mazzeo, Fernanda Montenegro exibe foto do tempo que trabalhou com Chico Anysio em novelas radiofônicas | Foto: Glaco Firpo/Divulgação

Destacando-se nas técnicas de atuação e escrita, rapidamente se tornou um sucesso no humor radiofônico. Com a chegada da televisão, consolidou-se como um dos principais nomes da mídia que nascia. No início dos anos 1960, com o crescimento da TV no Brasil, passou a comandar o Chico Anysio Show, exibido na TV Rio entre 1960 e 1963.

Em 1969, transferiu-se para a TV Globo, onde criou personagens marcantes em programas como Chico City (1973-1980), Chico Anysio Show (1981-1990) e Escolinha do Professor Raimundo (1990-1995). O comediante também teve um quadro no Fantástico, exibido entre 1974 e 1991, consolidando sua presença em diferentes formatos televisivos e ampliando seu alcance junto ao público brasileiro. Seus shows de humor lotavam teatros pelo Brasil.

Chico Anysio teve uma vida amorosa novimentada. Casou-se seis vezes: com Nancy Wanderley, Rose Rondelli, Regina Chaves, Alcione Mazzeo, Zélia Cardoso de Mello, e Malga Di Paula. Além de Bruno Mazzeo, Chico teve sete filhos: Lug de Paula, Nizo Neto, Rico Rondelli, Cícero Chaves (1982-2021), Rodrigo Anysio, Victoria de Paula e André Lucas.