Segunda é Fogo... Contra Fogo

Cult de 1995 com Al Pacino e De Niro bate ponto na Netflix ao mesmo tempo em que sua sequência vira hit nas livrarias, com Michael Mann virando escritor

Por Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Em 'Fogo Contra Fogo', Robert De Niro é um assaltante meticuloso que lidera uma gangue especializada em interceptar transportes de carga

Filme modelo para quem almeja investir no filão "filme de assalto" com maestria, "Fogo Contra Fogo" ("Heat", 1995) chegou à Netflix. É o longa-metragem que marcou o primeiro encontro nas telas entre Al Pacino e Robert De Niro, amigos e contemporâneos da chamada Easy Rider Generation (onda estética que revolucionou os EUA no cinema, de 1967 a 1981). A dupla havia feito antes "O Poderoso Chefão 2", porém sem contracenar.

Na direção, Michael Mann satisfez o desejo das plateias de vê-los juntos. Em 2008, eles fizeram, lado a lado, "As Duas Faces da Lei", e, em 2019, foram reaproximados em "O Irlandês". A entrada desse cult no mais popular dos streamings acontece em meio ao sucesso, nas livrarias brasileiras, de uma aclamada experiência do realizador no terreno da prosa, redigida em duo com a escritora Meg Gardiner: "Heat 2: A Novel", que saiu lá fora pela editora William Morrow & Company. Quem lança aqui é a editora HarperCollins.

No que o livro saiu, ele virou, instantaneamente, um fenômeno no mercado editorial dos EUA. Sua trama expande o enredo de polícia e ladrão do filme, que surpreendeu espectadores por sua ousadia gráfica e pelo impacto de sua montagem. Sensação de surpresa similar acontece agora, com a incursão do realizador de sucessos como "O Informante" (1999) e "Colateral" (2004) pela escrita, a julgar pelos elogios recebidos de bambas da prosa como James Patterson. Este escreveu: "Já estou a citar linhas de 'Heat 2' aos meus amigos escritores, sem vergonha, dizendo que as linhas são minhas".

Em junho de 2022, em Nova York, uma cópia restaurada em 4K de "Fogo Contra Fogo" foi projetada no Festival de Tribeca. Suas sequências de tiro e perseguição marcaram época. Sua bilheteria beirou US$ 187 milhões. Sob a direção de Mann, De Niro é o ladrão de carros-fortes Neil McCauley, que lidera uma gangue especializada em assaltos mirabolantes, com armamento pesado, usando máscaras de hóquei. Pacino é Vincent Hanna, um dedicado policial, cuja vida pessoal está em frangalhos, empenhado em capturar McCauley. Mas um código de honra inusitado vai nascer entre eles, no momento em que Hanna tenta ajudar sua enteada (Natalie Portman) e que Neil engata um romance com uma especialista em artes plásticas, Eady (Ay Brenneman). Na Netflix, o longa pode ser visto em versão dublada. Nelson Machado (a voz do Quico, de "Chaves") dubla Pacino. Felipe Di Nardo dubla De Niro.

Ao longo de 480 páginas, "Heat 2" devassa as estruturas criminosas de Los Angeles, com pousos no Paraguai e no México dos cartéis. O livro começa do ponto em que "Fogo Contra Fogo" termina nas telas. Vai e volta no tempo, até os anos 1980, retratando a origem de seus dois protagonistas. Um dia após a resolução da trama do longa, o ladrão Chris (interpretado por Val Kilmer no filme) está escondido em Koreatown, ferido, delirante, a tentar desesperadamente fugir de LA. A caçá-lo está o detective da LAPD Vincent Hanna (Al Pacino). Horas antes, Hanna deteve McCauley. Agora, Hanna está determinada a capturar (ou matar) Chris, que é o último sobrevivente da tripulação de McCauley, antes de ele sair da cidade.

Ao retratar o passado, indo até 1988, McCauley, Chris e a sua gangue estão na fronteira entre os EUA e o México, emplacando um roubo atrás do outro. Por outro lado, Hanna segue sua vocação de homem da lei, em perseguição a criminosos violentos. O que lemos é uma trama que se candidata a clássico na literatura, numa intertextualidade com o cinema.

Mann já, já desentoca um longa daí.