Por: Rodrigo Fonseca (Especial para o Correio da Manhã)

Daniel Marc Dreifuss, o fator brasileiro no X do sucesso

Produzido por Daniel Marc Dreifuss, 'Fantasmas de Beirute' está na grade do Paramount | Foto: Divulgação

Num momento de rearranjo político do mundo, frente a uma tragédia bélica no Oriente Médio que ceifa vidas a cada segundo, uma série sobre os bastidores da indústria do terrorismo como "Fantasmas de Beirute" ("Ghosts of Beirut"), hoje na grade da Paramount , ganha mais do que um realce pop: torna-se uma aula de geopolítica essencial para debelar as dúvidas em torno do ódio.

Seu foco não está no atual combate friccionado pelo Hamas, mas, sim, numa recriação do cerco a Imad Mughniyeh (1962-2008), libanês que virou signo da Jihad islâmica, à frente do Hezbollah. Sob a frenética direção de Greg Barker, sua trama mostra como Imad despistou seus adversários da CIA e do Mossad por mais de duas décadas.

Entre os componentes criativos de maior essencialidade para que o projeto ganhasse corpo - e adquirisse a relevância que vem conquistando na streaminguesfera - está um brasileiro duas vezes indicado ao Oscar, por "No" (2012) e por "Nada De Novo No Front", que abocanhou quatro estatuetas de Hollywood em março. Daniel Marc Dreifuss é seu nome. Nome que já se estabelece como sinônimo daquele tipo mítico de produtor que tira do papel o que ninguém mais tira.

"Esse projeto do 'Ghosts of Beirut', que é um produto original da Showtime hoje na Paramount Plus, nasceu como documentário e virou série narrativa, carregando um contexto multicultural e multiétnico, com 90 personagens com fala, fugindo do óbvio da representação do universo militar, evitando o maniqueísmo. É um projeto que abrange os EUA, a França, o Marrocos e Israel, apostando na complexidade dos personagens", disse Dreifuss, ao Correio da Manhã, via Zoom, em meio a um processo de análises de novos projetos.

"Já assumi muitos projetos que eram considerados 'difíceis', que ninguém queria assumir, cuidando para que os beats (as curvas dramáticas) estejam presentes e sejam bem executadas. Se é para ter cena falada em Árabe, elas serão faladas em Árabe".

Dreifuss trabalhou com Greg Barker antes num projeto igualmente centrado em desarranjos da geografia política internacional, que se encontra na Netflix: "Sergio" (2020), com Wagner Moura e Ana de Armas. É a saga do diplomata Sergio Vieira de Mello (1948-2003). Em recente palestra na Escola da Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj), ele explicou seu modo de olhar. "No meu início, comecei a pensar em que tipos de histórias eu poderia contar porque me interessam, são um reflexo de como eu vejo o mundo. Eu gosto de pesquisa, história, processos políticos, momentos de transição e relações indivíduo sociedade, os dois últimos que talvez tendam a ser a linha condutora dos meus filmes", disse Dreifuss, cujo currículo estampa cults como "Nunca Vas A Estar Solo" (2016) e "Crossing" (2011).

Seu método atencioso de produzir, num corpo a corpo com a dramaturgia, foi aplicado em palestras e reuniões nos festivais de Locarno e de San Sebastián, onde cruzou com o Correio.

"Em Locarno, estive no Fórum de Coprodução Europeia. Ouvi o pitching de todos os projetos e, depois, tive reunião com todos individualmente. Também fiz uma palestra com o tema: 1De Locarno ao Oscar'. Escolhi o 'No', com Gael García Bernal, que lancei em Cannes, em 2012, como ponto de partida por ser um filme que foi literalmente de Locarno ao Oscar. Ele tem uma realidade muito mais próxima de quem estava na plateia, num modelo de financiamento de várias partes que se unem. É diferente do 'Nada De Novo No Front', um filme de estúdio com uma fonte única de financiamento. Foi bárbaro estar em Locarno. Consegui ver um ou dois filmes, tive a chance de conhecer a cidade e entender um pouco o que as pessoas estão pensando nesse modelo de coprodução. É muito legal saber a pluralidade de vozes e visões que estão surgindo e continuam trabalhando com narrativas tão diversas", explica o produtor.

O Brasil não sai de seu escopo. "Estudo atualmente projetos de longas e projetos de minissérie. Quase todos são em Inglês, mas tenho projeto de minissérie no Brasil", diz Dreifuss. "Eu quero fazer um thriller policial no cinema e quero fazer mais um thriller com fundo político do Brasil e Europa".

 

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