Era uma vez Robert De Niro, em comemoração dos 80 anos do astro

Para comemorar os 80 anos do astro, que faz aniversário nesta quarta, a MUBI leva ao streaming o épico de gângster que ele fez com Sergio Leone na década de 1980

Por Rodrigo Fonseca

O gângster Noodles, de 'Era Uma Vez na América', se tornou um dos maiores papéis da carreira de Robert De Niro

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Com fortes chances de concorrer ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, por seu assombroso desempenho em "Assassinos da Lua das Flores", de Martin Scorsese, que estreia em outubro, Robert De Niro completa 80 anos na próxima quarta-feira - ele nasceu em 16 de agosto de 1943. A fim de celebrar a data, a plataforma MUBI vai exibir alguns dos longas nos quais ele contracenou com titãs, como "O Rei da Comédia" (1982), com Jerry Lewis (1926-2017), e "Fogo Contra Fogo" (1995), com Al Pacino.

Mas já está no ar no www.mubi.com um dos longas mais tocantes de sua carreira: o épico "Era Uma Vez Na América" ("Once Upon a Time In América"), produção de US$ 30 milhões, lançada no Festival de Cannes de 1984 e encarada como sendo a obra-prima do cineasta romano Sergio Leone (1929-1989).

No Festival de Cannes, 39 anos atrás, sua projeção foi encerrada com uma ovação de mais de 20 minutos de aplausos.

Ambientado em três épocas distintas - 1918, 1930 e 1968 - de Nova York, o filme é baseado no romance "The Hoods", de Harry Grey, e chega ao streaming em sua metragem original, de 229 minutos, preservando digitalmente a beleza da trilha sonora de Ennio Morricone (1928-2020), indicada ao Globo de Ouro, em 1985. Suas composições ainda renderam ao longa o Bafta, o Oscar inglês, ajudando-o a ganhar status de obra-prima, fazendo de Leone uma escola, reconhecida como bússola de invenção por áses da linguagem cinematográfica do presente, como Quentin Tarantino.

Filmado entre o Brooklyn, a Flórida e os estúdios da Cinecittà, em Roma, com algumas cenas rodadas em Montreal, "Era Uma Vez Na América" começou a ser idealizado por Leone após o sucesso mundial de "Era Uma Vez No Oeste" (1968), com Claudia Cardinale, Henry Fonda e Charles Bronson. Chegou aos cinemas num momento de apogeu de seu protagonista, De Niro, o aniversariante do mês, que havia conquistado o Oscar em 1981, pelo cult "Touro Indomável". Apesar de todo o carisma dele, a duração GG do filme, pouco usual na década de 1980, assustou as plateias, limitando sua bilheteria a cerca de US$ 5 milhões. Mesmo assim, o prestígio do longa, já à época, era alta, maior do que qualquer outro trabalho de Leone, que era esnobado pelos críticos por sua aposta em faroestes comerciais.

Na releitura de Leone e sua horda de roteiristas (Leonardo Benvenuti, Piero De Bernardi, Enrico Medioli, Franco Arcalli, Franco Ferrini, Stuart Kaminsky e Ernesto Gastaldi) para a prosa de Harry Grey, a vida de judeus dos EUA nos anos 1910, 20, 30 e 60 é cartografada a partir das sequelas de exclusão que os cercam. Em 1968, David "Noodles" Aaronson (De Niro) retorna à Nova York, onde teve uma carreira como gângster, 30 anos atrás. A maioria dos seus amigos já morreu, mas ele sente que seu passado não se resolveu. A partir de uma série de flashbacks, a narrativa acompanha Noodles desde sua infância, como um garoto pobre de Nova York, até sua ascensão como contrabandista, chegando, depois, a virar chefe da Máfia, sempre tendo como principal parceiro - e futuro rival - Max, papel dado a James Woods.

Embora tenha dirigido muito pouco em seus 60 anos de vida, Leone havia desempenhado múltiplas funções na área cinematográfica antes de pilotar um set com sua autoridade de realizador autoral, tendo sido assistente de direção, roteirista, produtor... Marcou época com seu estilo proustiano, de buscar passados perdidos, esbanjando adrenalina nas cenas de ação.