Por: Rodrigo Fonseca

Buster Keaton: O palhaço que não ri

Com sua expressão sisuda, Buster Keaton tornou-se um dos maiores gênios do humor, numa trajetória revisada em documentário com a grife de Peter Bogdanovich (abaixo) | Foto: MUBI/Divulgação

Chamado de O Palhaço Que Não Ri, o ator, cineasta e gênio do riso Joseph Frank "Buster" Keaton (1895-1966) lotava cinema no início do século XX, estabelecendo uma relação "Marlene x Emilinha" com os fãs de Charles Chaplin (1889-1977). "A Casa dos Fantasmas" (1921) e "O Pesado" (1920) são algumas das iguarias de sua trajetória meteórica de sucesso na era muda do cinema. Trajetória que virou filme, "The Great Buster: A Celebration", produção lançada no Festival de Veneza de 2018, que, depois de cinco anos inédita em circuito brasileiro, chega ao país via MUBI.

É o filme derradeiro de um fã de Keaton, que foi um cineasta seminal para a formatação do audiovisual moderno nos EUA: Peter Bogdanovich (1939-2022). "Buster Keaton foi a síntese de toda a cartilha das imagens em movimento", disse Bogdanovich, em sua derradeira entrevista ao Brasil, durante a pandemia.

Em seu lúdico .doc, o realizador de "A Última Sessão de Cinema" (1971) aborda os bastidores da carreira de Keaton e analisa seu legado. O comediante imortalizou na telona um tipo de humor atlético, que não recorria aos recursos do melodrama, ao contrário do que se via em Carlitos: sua graça vinha de proezas físicas das mais inusitadas e de uma expressão de perene perplexidade.

 

Macaque in the trees
Peter Bogdanovich, cineasta

Em 1960, seis anos antes de perder a luta para o câncer de pulmão que o matou, Buster foi laureado com um troféu honorário dado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood pelos "talentos singulares que legaram às telas comédias singulares". Uma das mais criativas delas, "O homem das novidades" (1928), entrou para a História como um signo de excelência das narrativas "motovisuais". "Bancando o Águia" (1924) e "A General" (1926) também se destacam na obra dele, revisitada por Bogdanovich em "The great Buster", que foi premiado em Veneza com a láurea de melhor filme de resgate histórico.

"Keaton era um intérprete majestoso, que usava a máscara facial numa expressão sisuda para expandir seu espanto com o mundo e o cinema. Ele costuma ser festejado pelo grande ator que foi, com sua face trágica única, mas pouco se fala sobre o quão inventivo ele foi como diretor. Em 'The Great Buster', mais do que falar de seus sucessos e dissabores pessoais, eu quis dar ênfase ao cineasta magistral que ele foi", disse Bogdanovich ao Correio, em 2021.

 

Macaque in the trees
Gênio do humor do cinema mudo, Buster Keaton sua trajetória revisada em documentário de Peter Bogdanovich agora no streaming

"Keaton", prossegue o cineasta, "era infalível na decupagem. Dirigia com uma precisão impressionante para o padrão dos anos 1920, apostando no improviso de situações que hoje pareceriam perigosíssimas de serem feitas. Ele inovou os padrões da linguagem e inventou uma comédia física viva, que está na base de grandes experiência de humor feitas nos anos seguintes, feitas até o presente".

 

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