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Astérix, o x do sucesso na Netflix

Universo em quadrinhos de Goscinny e Uderzo faturou cerca de US$ 45 milhões só este ano | Foto: Divulgação

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Atenta à concorrência, a Netflix foi mais rápida dos que os exibidores e do que as plataformas rivais e trouxe para o Brasil o maior fenômeno de bilheteria da França desde a pandemia: o divertido "Astérix e Obélix no Reino do Meio". Foram 5 milhões de ingressos vendidos de fevereiro a maio.

Desde sua primeira aparição, nas páginas da revista "Pilote", sob os auspícios do roteirista René Goscinny (1926-1977) e do ilustrador Albert Uderzo (1927-2020), Astérix sempre foi uma grife de sucesso, não importa em que terreno (gibi, brinquedos, EuroDisney), esbanjando (com seu bom humor tipicamente europeu, mas, universal) uma centelha de heroísmo do qual os franceses se orgulham, infalível nas HQs e no cinema.

Não por acaso, no momento em que a França mais precisa de ajuda para reaver o público que a covid-19 afastou das salas de projeção, o gaulês voltou glorioso às telas, enchendo os cofres dos exibidores da pátria presidida por Emmanuel Macron de alegria. Agora é a vez de os assinantes da Netflix de esbaldarem, deliciando-se com a impecável versão brasileira, em que Alexandre Moreno dubla Astérix e Hélio Ribeiro cede a voz ao Imperador César.

Frenético do começo ao fim, "Astérix & Obélix: L'Empire du Milieu", com Guillaume Canet na direção e no papel principal, orgulha-se de uma arrecadação estimada em cerca de US$ 45 milhões. É uma receita astronômica para um longa-metragem francês.

Berço do cinema (criado pelos Irmãos Lumière em 1895), a França frequentemente lançava, ano a ano, filmes que beiravam ou até superavam a marca de cinco milhões de pagantes, às vezes, até de 10.000.000. Em 2008, por exemplo, "Bienvenue chez les Ch'tis" (lançado aqui só em DVD como "A Riviera Não É Aqui"), de Dany Boon, tornou-se o maior fenômeno popular daquele país nas telas, ao vender 20.489.303 entradas. Três anos depois chegou "Intocáveis" ("Intouchables"), de Olivier Nakache e Eric Toledano, que somou 19.490.688 espectadores. Em 2020 e 2021, como um reflexo da queda de frequência às salas, inerente à pandemia, as vendas de tíquetes pelas bilheterias de Paris, Nice, Marselha, Lyon e arredores despencaram.

O maior sucesso francês do ano passado, por exemplo, foi a terceira parte da franquia "Que Mal Eu Fiz A Deus", iniciada em 2014: "Qu'Est-ce Qu'On a Tous Fait Au Bon Dieu?", que vendeu 2.429.450 bilhetes. É um número expressivo pra vida pós primeiro surto da covid-19, mas comparando-se sua arrecadação à receita dos outros dois longas da cinessérie - o primeiro foi visto por 12,3 mil pagantes e o segundo, de 2019, por 6,6 mil pessoas -, seu faturamento ficou aquém do esperado. Muito aquém.

Em anos passados, Astérix já fez as salas de sua pátria lucrarem aos tubos. Em 2002, quando o gaulês estrelou "Missão: Cleópatra", 14.559.509 franceses compraram ingressos pra prestigiar o personagem de Uderzo e Goscinny. Antes, em 1999, quando Gérard Depardieu assumiu o papel de Obélix, numa hilária versão em carne e osso do quadrinho, 8,9 milhões de pagantes foram assistir sua aventura. Mas as cifras do novo longa da série em outros cantos do mundo, onde estreou em salas exibidoras, não param de subir.

Além do desempenho de Canet como Astérix (em hilária atuação), seu amigo pessoal e muitas vezes colega de tela Gilles Lellouche, galã, diretor e ás de arrecadações milionárias (vide "Um Banho de Vida"), encarna Obélix com o carisma a mil. O papel do Imperador César, eterno vilão dos gibis do personagem, foi confiado a Vincent Cassel. E ainda tem uma Cleópatra vivida por Marion Cotillard, diva da obra de Canet. A química entre Marion e Canet, na telona, é das mais eficazes em termos de mobilização popular, como prova a parceria deles em fenômenos de faturamento como "Até a Eternidade" ("Les Petits Mouchoirs", 2010) e "Estaremos Sempre Juntos" ("Nous Finirons Ensemble", 2018), vistos por 5,3 milhões de pagantes e 2,7 milhões de espectadores respectivamente.

Na trama de "O Reino do Meio", a filha do imperador chinês foge de seu reino e pede ajuda aos gauleses para poder ser livre de amarras políticas familiares. Astérix e Obélix vão ajudá-la, mas terão de usar seus poderes ao máximo para encarar os desafios políticos e éticos impostos por César e outros adversários.