A fadista que se sente em casa no Brasil

Carminho traz ao Rio o show da turnê mundial de lançamento do álbum 'Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir'

Por Affonso Nunes

Destaque da música portuguesa, Carminho volta ao Brasil para lançar o mais autoral de seus trabalhos fonográficos

Carminho traz ao Rio o show da turnê mundial de lançamento do álbum 'Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir'

A grande intérprete do fado aquece a voz para o reencontro com o público no Brasil. Neste domingo a lisboeta Maria do Carmo de Carvalho Rebelo de Andrade, ou simplesmente Carminho, sobe ao palco do Vivo Rio para uma apresentação única. Em turnê mundial, ela vem ao país para a 15ª edição do Festival Fado, mostrando as canções de seu novo álbum, "Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir" (Sony Music), trabalho que revela uma artista cada vez mais autoral e voltada às questões do universo feminino.

A cantora assina oito das 11 faixas do álbum, que nasceu da reflexão sobre o papel da mulher no fado e na sociedade em geral. "Morre-se muito de amor no fado, mas resistir é algo que me interessa cantar. Fui inspirada pela mulher — pela ideia de que a mulher sempre ocupou um lugar central como intérprete, mas há muitas narrativas paralelas e ambíguas dentro da própria mulher", explica a fadista.

No palco, Carminho apresenta canções do novo disco, como "Balada do País que Dói", "Lá Vai Lisboa", "Pela Minha Voz" e "Saber" (esta última teve a participação de Laurie Anderson no álbum). O Brasil também está presente no repertório, com "Sabiá", de Tom Jobim e Chico Buarque, que ela gravou em 2016. O setlist inclui ainda "O Quarto", da trilha sonora do filme "Pobres Criaturas", com Emma Stone.

No palco, instrumentos tradicionais do gênero, como a guitarra portuguesa e a viola de fado, são mesclados com guitarra elétrica, Mellotron e Cristal Baschet. Caminho buscou inspiração nos conjuntos de guitarras portuguesas e em grandes vozes como Maria Teresa de Noronha, Beatriz da Conceição e Teresa Siqueira (sua mãe).

As referências incluem outras duas mulheres que inovaram a cena musical. Uma delas é a cantora americana Annette Peacock, uma das pioneiras da música eletrônica desde os anos 1960. A obra de Annette atravessa o jazz e o rock de vanguarda, sempre marcada por forte liberdade estética e emocional. A segunda é a produtora e compositora Wendy Carlos. Autora das trilhas de "Laranja Mecânica" e "O Iluminado", ela foi uma das primeiras artistas a popularizar o sintetizador na música.

"Essas mulheres tiveram um papel admirável ao experimentarem novas possibilidades de uso das vozes femininas. Sem elas eu não teria feito este álbum. As duas mostraram que as mulheres e as suas vozes podem romper padrões. Isso fica claro quando uso o Mellotron e o Vocoder. É como se cada apresentação da minha voz revelasse diferentes estados de espírito, diferentes mulheres e até diferentes épocas", define.

Carminho tem uma relação de longa data com o Brasil. Em duas décadas de carreira, lançou sete álbuns de estúdio e gravou ao lado de nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Marisa Monte e Milton Nascimento. Em 2016, a fadista recebeu um convite da família Jobim para gravar "Carminho canta Tom Jobim", com a banda que acompanhou o maestro nos seus últimos 10 anos de vida. Já o álbum "Portuguesa", de 2023, incluiu parceria dela com Marcelo Camelo em "Levo o meu barco no mar". No ano passado, gravou dueto com Caetano em "Os Argonautas", consolidando seu vínculo com a música brasileira.

Em seu retorno ao Brasil, Carminho diz que se sente muito à vontade no país. "O Brasil é uma segunda casa, um lugar onde não sinto estranheza alguma. Aqui eu me relaciono profundamente com a música. Quero sempre gravar música brasileira e trabalhar com artistas brasileiros porque é um terreno muito fértil. A língua portuguesa é incontornável, é a nossa maior relação, que nos torna únicos. E por isso há uma pluralidade e uma conexão maravilhosa", garante a cantora se apresenta com uma banda formada por André Dias (guitarra portuguesa), Flávio Cardoso (viola de fado), Tiago Maia (baixo acústico), Pedro Geraldes (guitarra elétrica) e João Pimenta Gomes (Mellotron, Ondes Martenot e Cristal Baschet).

SERVIÇO

CARMINHO

Vivo Rio (Av. Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo)

23/11, às 20h30

Ingressos a partir de R$ 90