Nasi pronto para abraçar o monstro

Na contramão dos ataques da presença da IA na música, vocalista do Ira! anuncia que a tecnologia fará os arranjos das canções de seu próximo álbum solo

Por Júlio Maria (Folhapress)

Intérprete de muitos recursos, Nasi extrapola o conceito de álbum de covers no excelente 'Rocksoublues' onde se faz acompanhar por músicos de várias escolas e estilos

O roqueiro Nasi, cantor da banda Ira!, vai se tornar o primeiro artista brasileiro de renome a lançar um álbum feito com inteligência artificial. Seis músicas do projeto chamado "nAsI - Artificial Intelligence" já estão prontas e começarão a ser publicadas nas plataformas a partir do dia 23 de janeiro, quando ele fará 64 anos.

"Alguns vão jogar pedras, mas não estou nem aí", ele diz. A classe musical tem se voltado contra o uso da IA sobretudo pela ideia de que a criação humana é intransferível e insuperável. E de que, ao fazerem uso de materiais já compostos um dia, as empresas de tecnologia deveriam pagar direitos autorais pelas criações artificiais.

Nasi não só corre para abraçar o monstro do qual sua classe foge como parece pronto para rebater os dois argumentos. Todas as músicas são versões de canções que ele mesmo fez em sua carreira solo: "Corpo Fechado", "Feitiço na Rua 23", "Ogum", "Polvo em Los Ojos (Poeira nos Olhos)", "Perigoso" e "Alma Noturna".

Logo, o material que usa como base pertence a ele mesmo. "Não sou contra o pagamento de direitos e estou pronto para fazer isso se alguém reclamar, mas o que a IA está fazendo é o que sempre fizemos quando dizíamos 'vamos compor um rock tipo Led Zeppelin? Vamos fazer um blues tipo Chicago?' O Ira! está cheio de referências do The Who. Você acha que eles pensaram em nos processar por isso?", indaga.