Por: Affonso Nunes

Nay Porttela, profissão de fé na canção

Naya Porttela faz do álbum um manifesto de leveza e silêncios | Foto: Rodolfo Ruben/Divulgação

Numa era em que a inteligência artificial redefine os processos criativos da música, Nay Porttela caminha suavemente pela contramão com seu novo álbum "Alvorada", já disponível nas plataformas digitais. O trabalho emerge como um manifesto silencioso em favor da canção pura, moldada com instrumentos acústicos, colaborações humanas resultando em delicadas texturas melódicas. Aqui as pausas têm algo a dizer.

Depois de dois discos de releituras e dois de composições autorais, a cantautora acredita ser este o seu trabalho mais maduro, apostando na sofisticação da canção brasileiras com arranjos que privilegiam o piano, o violão e a viola explorando sonoridades que perpassam a bossa nova, o samba, o jazz e a música regional brasileira.

A travessia emocional do álbum começa com "Doce", colaboração com a artista japonesa Yuga, lançada como single em fevereiro. A faixa cruza samba e minimalismo japonês. A percussão brasileira dialoga com elementos etéreos.

"Inverno Sem Verão" nasce de parceria com os compositores Juan Max, Alan Souza, Diego Naza e Anderson Ovo, onde Nay canta o fim de um amor com delicadeza de quem conhece a dor mas se recusa a dramatizá-la.

Em "Seu Dengo", o afeto reaparece em forma de reencontro. Percussões afro-brasileiras, sintetizadores suaves e violão embalam letra sobre voltar a sentir e se permitir ser cuidado.

"Sempre Vou Te Amar" apresenta a delicadeza da viola de Rafael Eloy dialogando com piano e sinos tocados pela própria Nay, criando atmosfera orgânica e intimista. E "Rio" é uma bossa nova contemporânea com bateria de Marco da Costa.

Durante o processo criativo, Nay também assinou todo o figurino usado nos ensaios, colocando em prática sua formação em Design de Moda. "A moda sempre foi, para mim, uma forma de me comunicar e expressar. Eu modelo, corto e costuro todos os meus figurinos de shows para transmitir, através do visual, uma experiência que vai além da música", conta. Em "Alvorada", essa conexão entre som e imagem aparece de forma ainda mais sensível, reforçando conceitos de presença, leveza e identidade.