Enfim, o protagonismo de Carlos Watkins

Veterano da música nacional, pianista lança, aos 60 anos, seu primeiro álbum solo após décadas de carreira como sideman e arranjador

Por Affonso Nunes

Carlos Watkins apresenta temas do chorinho com sensibilidade e técnica apurada em seu tardio álbum de estreia

Após décadas de atuação na música brasileira, o pianista, saxofonista e arranjador Carlos Watkins finalmente registra seu primeiro álbum solo. "Chorinho no Piano" representa tanto a realização de um desejo antigo quanto um marco na trajetória de um músico que construiu carreira sólida nos bastidores da MPB, revelando agora ao público sua técnica refinada e elegância interpretativa.

Watkins iniciou sua formação musical aos seis anos, quando ganhou o primeiro piano do avô. Estudou no Instituto Villa-Lobos e posteriormente na prestigiada Berklee College of Music, em Boston, onde ampliou horizontes entre música erudita, jazz e ritmos latino-americanos.

Ao longo da carreira, integrou formações como Rio Jazz Orquestra, Sexteto de Sopros e Cordas do Instituto Villa-Lobos e Orquestra Ideal de música latina, em Boston. No universo do choro, participou dos grupos "Chapéu de Palha" e "Chorarte", além de atualmente integrar o conjunto Taruira. Como acompanhante, trabalhou com nomes consagrados como Zizi Possi e Eduardo Dusek.

O repertório de "Chorinho no Piano" reúne clássicos de Pixinguinha, Luperce Miranda, Garoto e Tom Jobim, demonstrando reverência aos mestres do gênero. A ousadia fica por conta da inclusão de "Donna Lee", de Charlie Parker e Miles Davis, adaptada para o universo do piano de choro com notável refinamento. A abordagem de Watkins privilegia a clareza harmônica, revelando uma técnica apurada que permaneceu décadas em segundo plano.