Por: Affonso Nunes

Juzé. Da Paraíba (e do mundo)

Juzé: 'Minha música tem uma coluna vertebral nordestina e tentáculos universais: Mouros, ciganos, ingleses, africanos, jamaicanos, mexicanos, americano' | Foto: Max Brito/Divulgação

Desde Luiz Gonzaga e Dorival Caymmi o Nordeste dá régua e compasso à música brasileira. A lista de talentos forjados na região é tão grande que demandaria mais que o espaço desta página para citar. Cantor, compositor, ator e poeta, o multiartista paraibano Juzé se apresenta, com propriedade, como um dos caçulas da relação. E para quem ainda não o conhece, uma boa pedida é conferir o show que antecipa o lançamento de seu novo EP, "Mormaço de Fogueira", nesta quinta-feira (25), no Teatro Domingos de Oliveira, no Planetário da Gávea.

O trabalho inteiramente dedicado ao forró será lançado oficialmente em 8 de outubro, data em que se celebra o Dia do Nordestino. Radicado no Rio desde 2021, cantor e compositor coleciona conquistas e reconhecimento de nomes consagrados como Elba Ramalho, Alceu Valença e Chico César, além de ter sido incluído pela revista Rolling Stone na seleta lista Future of the Music ao lado dos brasileiros Jotapê, Chico Chico, BaianaSystem e Rachel Reis.

Para Juzé, a identidade nordestina é fundamental em sua música. "O Nordeste é uma digital muito bem definida dos seus. Muitas vezes caricata aos olhos do outro. Mas pelo olho nosso, sabemos ver nosso povo, do Maranhão à Bahia", diz. "É desse DNA que se imprime minha música. Do que vem no sotaque do terraço da minha família às ruas do centro das cidades que andei. O sertão que senti em mim. Mesmo com a dinâmica mutável das gerações, nosso sentimento de pertencimento é definido", acrescenta.

O EP "Mormaço de Fogueira" é seu primeiro trabalho solo dedicado ao forró, contando com participações de Flávio José, Elba Ramalho, Maciel Melo e Juliana Linhares. Para o artista, esses encontros musicais "significam sonhos vivos". "Um menino que ouvia essas energias sem saber muito bem o que elas eram, seu tamanho ou expressão midiática. Apenas sentia pelos auto falantes de sons dos outros e a arte deles ficou em mim. Como perfume depois de dançar forró agarrado. Eles são parte de minha arte", comenta.

A apresentação desta noite mostrará a versatilidade de Juzé como compositor e intérprete em músicas conhecidas de seu público, incluindo "Agarrado", "Nordeste Destino", "Doce Confeito Mel" e "Mêi Sargaço, Meio Mato". O repertório também traz canções já lançadas nas plataformas digitais, como o xote "Rede no Cangote" e o feat com Elba Ramalho "Fé em quem me Deu Valor", além de releituras próprias de sucessos de artistas que admira, como Zé Ramalho ("Banquete dos Signos"), Lenine ("Hoje Eu Quero Sair Só") e Ney Matogrosso ("Homem com H".

A noite promete duetos com os convidados especiais Luã Yvys (filho de Elba), Raya e Mantuano, Suzy Lopes, Gabi Blue e Marco França. "O Rio de Janeiro é minha segunda casa. A cidade que me abraçou, que me deu a oportunidade de ser um artista completo de maneira muito natural. O Rio abraça o nordestino e também é feito por muitos deles", destaca.

Apontado como um dos principais herdeiros da música nordestina em sua geração, Juzé vem construindo carreira sólida com sonoridade versátil, performance visceral e carisma com o público. Atualmente pode ser visto no encerramento dos episódios da série documental "São Julhão - O Nordeste em Festa" (Globoplay). Depois de se destacar nas novelas "Mar do Sertão" e "No Rancho Fundo", Juzé estreou no cinema e foi indicado a Melhor Ator Coadjuvante pelo curta-metragem "Habeas Pinho", sobre um seresteiro que teve o violão confiscado pela polícia.

Sobre suas experiências em outras linguagens artísticas, Juzé revela como elas influenciam sua música e sua carreira de ator. "Levo a forma de interpretar canções. E cada vez mais vejo o quanto elas são importantes e a interpretação delas merece atenção. Merece entrega, sentimentos e paixão pelo momento que se defende canções e se passa a ser defendido por elas. As cênicas sempre estiveram presentes na minha vida ligadas a esse objetivo. O olho no olho entre palavra, canção, e corpo", explica.

O lançamento do novo trabalho de Juzé coincide com a campanha para o reconhecimento do forró como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco. "Minha música tem uma coluna vertebral nordestina e tentáculos universais: mouros, ciganos, ingleses, africanos, jamaicanos, mexicanos, americanos. Será um prazer receber vocês", avisa o multiartista que se define como brasileiro e cidadão do mundo "de raiz".

SERVIÇO

JUZÉ - MORMAÇO DE FOGUEIRA

Teatro Domingos Oliveira (Planetário da Gávea - Rua Vice-Governador Rubens Berardo, 100)

25/9, às 20h

Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia)