Por: Affonso Nunes

Sombrinha, meio século de samba

Sombrinha é autor de cerca de 400 composições | Foto: Leo Aversa/Divulgação

Cinquenta anos depois de iniciar sua caminhada no mundo do samba, Sombrinha sobe ao palco do Vivo Rio nesta segunda-feira (8) para celebrar uma carreira que ajudou a redefinir o gênero nos anos 1980. O cantor, compositor e multi-instrumentista, um dos fundadores do lendário Fundo de Quintal, construiu um repertório de mais de 400 composições que se tornaram trilha sonora de gerações inteiras, interpretadas por vozes como Zeca Pagodinho, Alcione, Beth Carvalho e Jorge Aragão.

A apresentação, com direção artística de Diogo Nogueira, revisita os grandes sucessos do sambista paulista que escolheu o Rio de Janeiro como lar artístico. "Comemorar 50 anos de carreira é a alegria de poder viver e sobreviver da música. São muitos momentos especiais, mais de 400 músicas gravadas e inúmeras parcerias. E me emociona muito saber que tenho uma música eterna: 'O Show Tem Que Continuar'", declara Sombrinha, referindo-se a uma de suas composições mais conhecidas.

Nascido no litoral paulista em meio ao universo do choro, Sombrinha migrou para o Rio onde não sonhava em ser artista profissional. O destino, porém, o conduziu ao convite para integrar o Fundo de Quintal, grupo que revolucionou o samba ao incorporar novos instrumentos como o banjo e o tantã, introduzindo sonoridades que ampliaram o vocabulário musical do samba, influenciando toda uma geração de músicos e consolidando o pagode como uma legítima vertente do gênero.

Sua primeira composição gravada foi "Marcas no Leito", lançada por Alcione em 1981, marco inicial de uma produção que atravessaria décadas. A parceria com o saudoso Arlindo Cruz (1958-2025) rendeu alguns dos clássicos mais duradouros do samba contemporâneo, enquanto colaborações com artistas de outros gêneros, como Chico Buarque e Hamilton de Holanda, demonstraram a versatilidade de sua obra. No álbum "Matéria Prima", essas experimentações ganharam forma definitiva, consolidando Sombrinha como compositor versátil.

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Arlindo Cruz e Sombrinha, amigos desde o Fundo de Quintal: parceria frequente | Foto: Divulgação

O espetáculo desta noite contará com participações especiais de Jorge Aragão, Sombra, Nina Wirtti, Bebê Kramer e Xande de Pilares, além do próprio Diogo Nogueira.

"É como se eu estivesse fazendo um show para o meu pai", afirma Diogo, revelando a proximidade familiar que une os dois músicos. A relação entre as famílias remonta à infância do filho de João Nogueira: "Desde criança o Diogo frequentava a minha casa. Cheguei a compor para João Nogueira, mas não deu tempo dele gravar. A canção 'A Felicidade Me Sorriu', feita para João, foi gravada então por mim e pelo Diogo, em 2003", relembra Sombrinha.

O repertório da noite incluirá tanto composições inéditas quanto clássicos consagrados como a já citada "O Show Tem Que Continuar", "Não Quero Saber Mais Dela" e "Quem é de Sambar", canções criadas em parceria com bambas do quilates de Luiz Carlos da Vila (1949-2008), Arlindo Cruz e Almir Guineto (1946-2017). A direção musical fica por conta de Rafael dos Anjos, com arranjos assinados por Rildo Hora, Jotinha, Raphael dos Anjos, Vinicius Magalhães, Neto Junior e Jota Morais.

Os anos se passam, alguns parceiros se vão, mas Sombrinha e sua obra são testemunhas oculares da vitalidade do samba.

SERVIÇO

SOMBRINHA

Vivo Rio (Av. Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo)

8/9, às 21h | Ingressos a partir de R$ 140 e R$ 70 (meia)