Kamasi Washington simboliza a modernização e rejuvenescimento do jazz ao se fundir com outras linguagens musicais como o hip hop | Foto: Divulgação
O saxofonista americano Kamasi Washington desembarca no Rio de Janeiro em apresentação pelo festival Queremos! nesta quinta-feira (4) no Circo Voador. Washington chega ao Brasil em momento de particular efervescência criativa, impulsionado pelo lançamento de "Fearless Movement", seu mais recente álbum de estúdio lançado em maio de 2024. O disco representa uma nova fase na trajetória do saxofonista, que vem expandindo sistematicamente as fronteiras do jazz. Suas faixas transitam com naturalidade entre o hip hop e o jazz, incorporando scratches, batidas carregadas de groove e distorções que dialogam com o piano jazzístico tradicional, consolidando Washington como figura central do movimento que redefine o gênero para as novas gerações.
Um jazzista alinhado com o futuro do gênero
Kamasi Washington nutre uma relação especial com músicos brasileiros, notadamente com Jonathan Ferr, que abre a noite no Circo Voador | Foto: Divulgação
Nascido em Los Angeles em 1981, Kamasi Washington emergiu como uma das figuras mais transformadoras do jazz deste século, liderando um movimento que reconectou o gênero com audiências jovens e diversificadas. Formado no Departamento de Etnomusicologia da UCLA, onde estudou com lendas como Kenny Burrell e Billy Higgins, Washington construiu sua reputação inicialmente como sideman, participando de gravações que vão do hip hop experimental de Kendrick Lamar em "To Pimp a Butterfly" (2015) até colaborações com veteranos jazzistas como Wayne Shorter e Herbie Hancock.
Membro fundador do coletivo West Coast Get Down, grupo de músicos de Los Angeles creditado por revitalizar o jazz para as novas gerações, Washington desenvolveu uma linguagem musical que transcende as fronteiras tradicionais do gênero. Sua abordagem incorpora elementos do soul, funk, hip hop e música clássica, resultando em composições de forte carga emocional e espiritual que dialogam tanto com a tradição jazzística quanto com as sonoridades contemporâneas.
Seu álbum de estreia "The Epic" (2015), com suas três horas de duração, estabeleceu Washington como visionário capaz de criar narrativas musicais épicas sem perder a coesão artística. Trabalhos subsequentes como "Heaven and Earth" (2018) e o recente "Fearless Movement" (2024) consolidaram sua posição como líder de uma geração que redefine constantemente os limites do jazz, mantendo-se fiel às raízes do gênero enquanto explora territórios sonoros inexplorados. Sua versatilidade se manifesta também em colaborações que vão de Lauryn Hill a Snoop Dogg.
Cada vez mais em alta na cena internacional, Kamasi Washington nutre relações especiais com a música brasileira. Várias vezes manifestou admiração pública por instrumentistas como o saudoso mastro Letieres Leite (1959-2012) e pelos pianistas Amaro Freitas e Jonathan Ferr, justamente o músico que dividirá o palco com ele no Circo Voador.
Apelidado pelo jornal El Pais de "garoto estandarte do jazz", Ferr apresentará no show de abertura repertório de "Liberdade", seu terceiro álbum. O pianista carioca conduzirá uma performance que conecta jazz, hip hop, neo soul e música eletrônica, mantendo como fio condutor os temas de espiritualidade, amor e cura que permeiam sua obra. A formação inclui bateria, baixo, teclado e saxofone, além da participação especial de Jefferson Placido, prometendo uma abertura à altura do headliner internacional.
Jonathan Ferr | Foto: Pedro Figueiredo/Divulgação
O Circo Voador já foi palco de outras apresentações ao vivo de Kamasi Washington. Reconhecido pela intensidade de suas performances, o saxofonista combina virtuosismo técnico com liberdade criativa e espiritualidade.
O show marca também o retorno de Washington ao circuito de apresentações promovidas pelo Queremos!, produtora que vem construindo uma relação duradoura com o artista. Sua última passagem pelo Rio aconteceu durante o Queremos! Festival 2022, evento que também levou o músico a Porto Alegre e São Paulo.