Toca Raul (para sempre)!

Musical no Teatro Rival Petrobras celebra os 80 anos do roqueiro baiano com base em manuscritos originais do artista

Por Affonso Nunes

Bruce Gomlevsky dá vida ao icônico roqueiro baiano em 'Raul Seixas, O Musical'

No ano em que Raul Seixas, uma entidade do rock brasileiro, completaria 80 anos uma série do Globoplay traz os holofotes para o emblemático artista e o Teatro Rival Petrobras recebe nesta sexta e sábado (18 e 19) o espetáculo "Raul Seixas, o musical", um mergulho na intimidade criativa do roqueiro baiano. Sob direção e dramaturgia de Leonardo da Selva, direção musical de Gabriel Gabriel e interpretação visceral de Bruce Gomlevsky, a montagem propõe uma experiência teatral intensa.

A peça se estrutura como uma noite de insônia criativa, momento em que Raul compõe, escreve e reflete sobre sua trajetória artística e sua relação com o Brasil. O texto dramatúrgico tem como base manuscritos originais do músico, material raro que revela suas reflexões sobre arte, ética, amor, liberdade e o papel do artista na sociedade. Essa documentação inédita oferece ao público acesso privilegiado ao processo criativo de um dos mais importantes nomes não apenas do rock nacional, mas da múica brasileira.

O repertório musical abrange mais de 20 canções, incluindo sucessos consagrados e faixas menos conhecidas, além de influências declaradas do artista como Little Richard e Elvis Presley. Os arranjos foram especialmente desenvolvidos para a linguagem teatral, criando uma sonoridade que dialoga com a proposta cênica. A trilha percorre desde clássicos como "Maluco beleza" e "Metamorfose ambulante" até composições que revelam as múltiplas facetas do compositor.

Bruce Gomlevsky constrói uma interpretação que foge da caricatura fácil, optando por uma abordagem que privilegia a complexidade psicológica do personagem. O ator incorpora sutilmente a prosódia baiana e explora as contradições internas de um artista dividido entre tradição nordestina e modernidade roqueira, entre integração social e marginalidade, entre os benefícios do sucesso e a necessidade de introspecção.

A dramaturgia de Leonardo da Selva se destaca por evitar a estrutura convencional de musicais biográficos, onde canções são intercaladas por textos explicativos. Aqui, a narrativa teatral ganha densidade própria, construindo uma jornada que revela as conexões do artista com suas raízes baianas e seu processo criativo. A montagem incorpora elementos da cultura nordestina, como a capoeira, criando um amálgama cultural que reflete a própria identidade artística de Raul Seixas.

"O que se tem visto são musicais em que as músicas são desfiadas com textos de permeio - na prática, um concerto com texto. Aqui a dramaturgia é potente em todos os seus aspectos. É a demonstração da jornada de Raul, com as suas ligações com suas raízes, com a Bahia, com a criação. Há rock, mas há capoeira. Há maluco beleza, mas há o maravilhoso baianês de abusar, que é chatear. Há de um tudo, sobretudo, nos textos de Raul que Leonardo inclui de forma inteligente. Um amálgama que nos faz perceber muito além de uma metamorfose ambulante", destacou a crítica teatral Cláudia Chaves em resenha publicada em abril do ano passado no Correio da Manhã.

O espetáculo conta ainda com cenografia que acumula elementos de forma aparentemente desordenada, mas seguindo uma lógica interna que espelha o universo mental do protagonista. A iluminação mescla aspectos psicodélicos e transcendentais, enquanto o figurino transita entre o cotidiano e o fantástico. A banda ao vivo complementa a proposta, oferecendo suporte musical de qualidade técnica elevada.

SERVIÇO

RAUL SEIXAS, O MUSICAL

Teatro Rival Petrobras (Rua Álvaro Alvim, 33, Cinelândia)

18 e 19/7, às 19h30

Ingressos entre R$ 42 e R$ 130