Amandona! mergulha para trazer à superfície aquilo que estava submerso
Cantora mineira lança 'Se Eu Pudesse, Te Beijava Até a Voz', um disco pop intimista que celebra afetos LGBTQIAPN+
A trajetória de Amandona! até seu primeiro álbum revela uma artista que transformou cada palco em laboratório criativo. Natural de Governador Valadares, migrou para Belo Horizonte para estudar Direito, mas foi a música que redefiniu seus caminhos. Entre apresentações em bares da capital mineira e participações em blocos carnavalescos, a cantora e compositora construiu um repertório eclético que vai de Marília Mendonça a Rita Lee e chegou a dividir palco com Ana Carolina, uma de suas principais referências artísticas.
Nesta quarta (16), Amandona! lança "Se Eu Pudesse, Te Beijava Até a Voz" pela OneRPM, trabalho que assume sem reservas a perspectiva sáfica em sua produção autoral. O álbum, produzido por Luiza Brina, reúne dez faixas que exploram universos afetivos de mulheres lésbicas e LGBTQIAPN+, estabelecendo diálogo direto com artistas como Cássia Eller, Angela Ro Ro, Ana Carolina, Adriana Calcanhotto e Leci Brandão. "Assumo com orgulho o estereótipo da 'sapatão emocionada', trazendo minhas vivências afetivas e desejos para o centro da narrativa", avisa a artista.
A sonoridade do disco equilibra guitarras oitentistas, arranjos pop contemporâneos e momentos centrados no formato voz e violão, criando uma identidade musical que reflete a espontaneidade dos bares da noite belo-horizontina onde Amandona! foi se fazendo artista.
As participações especiais de Letrux, Juliana Linhares e da própria produtora Luiza Brina (cantora e compositora de destaque da nova cena musical mineira) dão novos coloridos à paleta emocional das composições.
O processo de lançamento iniciou em maio com o single "Meu Vício", faixa de abertura que estabelece o tom confessional do álbum. Composta em parceria com Helena Guimarães, namorada e empresária da artista, a canção mistura blues, rock e guitarras nostálgicas em produção inspirada nos anos 1980. "Se Eu Soubesse Como", segundo single com participação de Letrux, constrói-se sobre piano de cauda e linha de baixo marcante, brincando com promessas feitas por áudio de WhatsApp em tributo estético ao legado de Angela Ro Ro.
Entre as faixas que compõem o álbum, "Senorita" surge como declaração em portunhol nascida de paixão carnavalesca, misturando música latina e pagodão baiano. "Quando Vi Já Fui" transforma um encontro casual em confissão musical através de melodia leve. "Moça Que Dança", inspirada por uma dançarina que conquistou a artista, incorpora influências do afoxé para narrar amor que se transformou em amizade.
"Te Quiero" carrega sensualidade e tensão emocional em composição escrita após a morte do pai da artista, falando de urgências não vividas com participação de Juliana Linhares. "Tão Sem Graça" retrata o fim de uma relação através de voz, violão e solo de trompete de William Pajé. "Sereia", única faixa previamente lançada e agora regravada em versão mais íntima, nasceu de viagem à Bahia que inspirou reflexões amorosas.
"Filosofia" transforma afeto em metáfora aquática através de guitarras brilhantes, enquanto "Eu Gosto Mesmo É de Beijar" encerra o disco com humor e franqueza sobre desejo, evocando o álbum "Maré" de Adriana Calcanhotto em produção que simula paisagem sonora de bloco carnavalesco.
O projeto visual do álbum foi registrado literalmente debaixo d'água com apoio de equipe de mergulho, reforçando a ideia de imersão emocional que perpassa o trabalho. "É uma tentativa de ampliar a visibilidade de corpos e afetos historicamente apagados na história da MPB", explica Amandona!.