Ancestralidade e afetos de Zé Manoel

Cantor e pianista pernambucano apresenta repertório do álbum "Coral" no Manouche em formato trio

Por Affonso Nunes

Zé Manoel

O cantor, compositor e pianista pernambucano Zé Manoel retorna aos palcos cariocas para duas apresentações especiais no Manouche, neste sábado (28), em formato trio que explora novas camadas de sua obra mais recente. Acompanhado pelos músicos Nega Deza na percussão e Alexandre Rodrigues nos sopros, o artista de Petrolina apresentará principalmente canções do álbum "Coral", lançado em 2024, que mergulha nas memórias da infância e na força das vozes negras, costurando religiosidade, ancestralidade e afetos com arranjos modernos.

Segundo Zé Manoel, essa configuração de palco permite uma abordagem mais orgânica e dinâmica das composições, sem perder o lirismo que pavimenta sua estrada musical. "Apresentar esse trabalho no Rio, uma cidade que tem tanta história com a música brasileira, é uma emoção imensa", comenta o artista. "Esse show carrega muitas camadas — de memória, de afeto, de ancestralidade — e poder compartilhá-lo com o público carioca, que sempre me acolheu com tanta sensibilidade, é como fechar um ciclo bonito entre o que me inspira e o que me move a cantar", completa.

O repertório contempla faixas como "Menina Preta de Cocar", "Não Negue Ternura", "Iyá Mesan" e "Adupé Obaluaê", que ganham novos contornos nessa formação mais enxuta, estabelecendo diálogos entre jazz, samba, ijexá e canção nordestina. A sonoridade de "Coral", muito bem recebido por público e crítica, encontra no formato trio a profundidade poética que caracteriza o trabalho de Zé Manoel como compositor.

Além das criações do álbum mais recente, o show revisita momentos marcantes da discografia do músico, incluindo canções dos álbuns "Canção e Silêncio" (2015), "Delírio de um Romance a Céu Aberto" (2016) — vencedor do Prêmio da Música Brasileira na categoria Projeto Especial — e "Do Meu Coração Nu" (2020), indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira. Com sua sofisticação ao piano e letras carregadas de sensibilidade e consciência, o artista escreve partituras que equilibram dimensões políticas e íntimas.

As apresentações contarão ainda com participações especiais: Áurea Martins na sexta-feira e Ifátoki Maíra Martins no sábado. Como já é tradição em suas apresentações, Zé Manoel também dedica espaço para interpretações de canções de outros compositores que moldaram sua trajetória musical, demonstrando a amplitude de suas referências e a generosidade artística que marca sua carreira.

Nascido em Petrolina (PE), José Manoel vem construindo uma reputação sólida desde seu disco de estreia homônimo em 2012. Suas composições, influenciadas pelas águas do rio São Francisco e pela rica cultura nordestina, resultam numa fusão única de tradição e modernidade.

Ao longo da carreira, colaborou com nomes como Alaíde Costa, Adriana Calcanhoto, Maria Bethânia, Ná Ozzeti, Jussara Marçal, Elba Ramalho, Fafá de Belém, Ana Carolina e Vanessa da Mata, consolidando-se como um dos grandes nomes da nova MPB. Atualmente, além das apresentações solo, Zé Manoel desenvolve turnê nacional com o show "Amaro Freitas e Zé Manoel interpretam Clube da Esquina", ao lado do também pianista Amaro Freitas.

SERVIÇO

ZÉ MANOEL

Manouche (Rua Jardim Botânico, 983, subsolo da Casa Camolese)

28/6, às 21h

Participações especiais de Áurea Martins (sexta) e Ifátoki Maíra Martins (sábado)

Ingressos: R$ 140 e R$ 70 (meia solidária com 1kg de alimento não perecível para o Retiro dos Artistas)