Morre, aos 78 anos, Hélio Delmiro, mestre brasileiro da guitarra

Músico que tocou com grande nomes nacionais e internacionais era considerado um dos maiores instrumentistas do jazz brasileiro

Por Affonso Nunes

Hélio Delmiro participou de grandes trabalhos na MPB, entre os quais tocar na banda de Elis Regina

 

O guitarrista e violonista Hélio Delmiro morreu nesta segunda-feira (16), aos 78 anos, em Brasília, vítima de complicações decorrentes de diabetes e insuficiência renal. O músico carioca, nascido em 20 de maio de 1947, vinha enfrentando sérios problemas de saúde que o obrigavam a fazer sessões regulares de hemodiálise. A morte foi confirmada pela produtora musical Leila Gallucci, amiga próxima do artista.

Delmiro representava uma das figuras mais emblemáticas do jazz brasileiro, reconhecido tanto pela virtuosidade técnica quanto pela sensibilidade musical que o levou a colaborar com alguns dos maiores nomes da música nacional e internacional. Sua trajetória começou ainda na adolescência, quando aos 14 anos já integrava conjuntos musicais, desenvolvendo um estilo que combinaria a sofisticação harmônica do jazz com a brasilidade melódica característica de nossa música popular.

O reconhecimento de sua importância no cenário musical ficou evidente no ano passado, quando a comunidade artística se mobilizou para apoiá-lo. Após passar mal durante uma apresentação no Sesc Pompeia, em São Paulo, foi organizado o espetáculo beneficente "Somos Hélio Delmiro" no Teatro Rival Petrobras. O evento, coordenado por Leila Gallucci, reuniu diversos músicos em uma homenagem que também tinha o objetivo de arrecadar recursos para custear o tratamento médico do guitarrista.

A versatilidade de Delmiro como acompanhador o tornou presença constante nos estúdios e palcos brasileiros desde os anos 1960. Sua guitarra e violão emprestaram sofisticação e swing a gravações memoráveis de intérpretes como Elizeth Cardoso, Clara Nunes e Elis Regina, três das maiores vozes femininas da MPB. O músico integrava a banda de Elis Regina em álbum "Elis & Tom", um dos maiores discos da história da MPB. Também estabeleceu parcerias duradouras com instrumentistas do calibre de João Donato, César Camargo Mariano e João Bosco, contribuindo para a consolidação de um som instrumental brasileiro de alta qualidade.

Sua projeção transcendeu as fronteiras nacionais, levando-o a colaborar com artistas internacionais de primeira grandeza. A parceria com a lendária cantora de jazz norte-americana Sarah Vaughan atesta o reconhecimento de sua competência técnica e musical no cenário mundial. Integrou também formações jazzísticas ao lado de músicos como o contrabaixista Charlie Haden, um dos nomes mais respeitados do jazz contemporâneo, demonstrando sua capacidade de transitar com desenvoltura entre diferentes escolas e estilos.

Entre sua extensa discografia, destaca-se o álbum "Samambaia", gravado em parceria com César Camargo Mariano, considerado um marco da música instrumental brasileira. A obra exemplifica a capacidade de Delmiro de criar atmosferas sonoras refinadas, combinando técnica apurada com lirismo melódico, características que definiram sua identidade artística ao longo de mais de cinco décadas de carreira.