O dia que Caymmi caiu no afrobeat

Referência do novo pop brasileiro, Caio Prado relê as canções do velho mestre baiano

Por Affonso Nunes

Caio Prado

Caio Prado estreia neste domingo (6, no Blue Note Rio, o show "Caio Canta Caymmi" numa apresentação que propõe um encontro entre clássicos da MPB e a modernidade pop de inspiração africana, misturando os ritmos de Caymmi com o amapiano e o afrobeat. "É nesse barco que estou pensando a musicalidade do projeto, trazendo os ritmos urbanos tão globalizados hoje para reler Caymmi. Dá sequência a uma estética pop do meu último álbum ('Caio em Ti'. E acredito que tem muito a ver com esse popular de Dorival, respeitando o clássico", afirma Caio ao Correio da Manhã.

Compositor e intérprete de relevância na nova cena musical, Caio foi amadrinhado e gravado por Elza Soares, além de ter sido protagonista de um momento marcante ao lado de Alcione no programa "Falas Negras" TV Globo). Sua conexão com a obra da família Caymmi remonta à adolescência, quando encontrou em Nana um caminho de afetos e identidade. "Tudo que ela cantava de Dori e Danilo me soava muito íntimo. Uma família que marca o cancioneiro popular. Revisitar essa obra com um olhar próprio tem sido um processo transformador", destaca.

"Me aprofundar na obra de Dorival Caymmi e sua vida tem sido enriquecedor. Nós estamos vivendo momentos de muita fugacidade das coisas e, quando a gente se debruça sobre a história da música popular brasileira através de um dos pais do cancioneiro popular, em cantigas de roda e canções praieiras, a gente retoma verdadeiros propósitos. É como se eu estivesse resgatando uma essência perdida", explica Caio que, no palco, contará com uma formação musical de peso. Dachuva assina a direção artística, cuidando dos samplers e do baixo elétrico, enquanto Elísio Freitas, responsável pela direção musical, traz guitarras e violões que dialogam com as percussões de Marcos Suzano e Bernardo Aguiar, criando uma atmosfera única e envolvente.

Para Caio, o show traz um simbolismo profundo. "Dorival, nosso buda nagô, falava exatamente sobre a simplicidade das coisas. A maneira com que ele cantava a vida humilde dos pescadores na Bahia; sua ascensão nos tempos da rádio no Rio cantando a boemia carioca, sobretudo a praia de Copacabana - onde viveu seus últimos anos - bairro onde vivo há sete anos. Como foi um dos precursores a saudar os orixás e símbolos do candomblé, pois era um homem extremamente assentado nas religiões de matriz africana. Isso se comunica com meu trabalho, no ponto de vista poético e ideológico."

Para Caio, interpretar Caymmi é um ato de resistência e reverência. "Em tempos de ainda intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana, cantar Dorival é um rito, mostrando que a história da música brasileira passa por aqui. Das mãos de Dorival sai a primeira cultura de brasilidade conhecida no mundo. 'O que que a baiana tem?', cantada por Carmen Miranda, foi a primeira internacionalização da música brasileira."

SERVIÇO

CAIO CANTA CAYMMI

Blue Note Rio (Av. Atlântica, 1910 - Copacabana) | 6/4, às 19h | Ingressos a partir de R$ 60