Jards Macalé olha o passado para nos mostrar o futuro

Cantor e compositor revisita seu transgressor álbum de estreia, lançado em 1972, em show gratuito no Parque de Ideias

Por Affonso Nunes

Jards Macalé revê canções de seu álbum de estreia como 'Mal Secreto', 'Vapor Barato' e Farinha do Desprezo'

Jards Macalé, um dos nomes mais influentes da música brasileira, apresenta um show gratuito na cidade. Nesta quarta-feira (19), às 18h, o cantor e compositor sobe ao palco do Parque de Ideias, na Biblioteca Parque Estadual, no Centro, para revisitar seu álbum de estreia, lançado em 1972. O projeto, idealizado pelo documentarista Marcio Debellian, celebra esse clássico do pós-tropicalismo, marcado por uma sonoridade experimental e um repertório de forte carga política e poética.

Figura central de nossa vanguarda musical, Jards construiu uma obra marcada pela ousadia estética e pelo espírito libertário. Ao longo de sua carreira singular, transitou por diferentes universos musicais, do samba ao rock, passando pela música erudita e pelo jazz. Parceiro de nomes como Torquato Neto, Capinam e Waly Salomão, desafiou padrões e enfrentou censuras durante a ditadura militar, consolidando-se como um artista indomável e de aqlma essencialmente inovadora.

Gravado nos anos mais duros do regime militar, o álbum "Jards Macalé" reflete essa inquietação do artista. A obra transita entre o lirismo e o caos, misturando influências diversas, sempre com uma abordagem vanguardista. A sonoridade crua e intensa é reforçada pelos arranjos de Lanny Gordin e pelo violoncelo de Jaques Morelenbaum, criando uma atmosfera densa e subversiva.

As letras das canções deste trabalho tocam fundo na opressão, desejo e resistência, como em "Mal Secreto", parceria com Waly Salomão, e "Revendo Amigos", que ressoa melancolia e distanciamento em tempos difíceis. Outros destaques do disco são "Vapor Barato", eternizada como um hino contracultural em posterior gravação de Gal Costa; "Let's Play That", uma fusão instintiva de blues e improviso; e "Farinha do Desprezo", que evidencia sua poética transgressora.

Antes do show, das 14h30 às 17h, o jornalista musical Leonardo Lichote conduz uma conversa sobre o disco. O bate-papo mergulha no contexto político e cultural da época, detalhando o processo de gravação e as histórias por trás das faixas.

No palco, Macalé revisita esse repertório emblemático ao lado do guitarrista Gui Held, do baixista Pedro Dantas e do baterista Thomas Harres, mantendo viva a chama transgressora de um dos álbuns mais importantes da música brasileira.

SERVIÇO

JARDS MACALÉ

Biblioteca Parque Estadual (Av. Pres. Vargas, 1261, Centro - Entrada pela rua da Alfândega | 19/2, às 18h

Entrada franca (retirada de bilhetes no site https://acesse.one/J2Ad6 ou na bilheteria, conforme disponibilidade)